Rubens Barbot, dança contemporânea e resistência

Radicado no Rio de Janeiro, artista gaúcho fundou a primeira companhia de dança contemporânea negra do Brasil

Por Vitória Regina

Rubens Barbot, natural de Rio Grande (RS), mudou-se para o Rio de Janeiro no final da década de 1980. Foi nessa cidade, que identificava como a capital cultural do Brasil, que fundou em agosto de 1990 a Cia. Rubens Barbot de Teatro e Dança, a primeira companhia de dança contemporânea negra do país.

A criação da Cia. Rubens Barbot de Teatro e Dança surgiu como uma resposta ao ambiente elitista que dominava os espaços da dança contemporânea. Rubens Barbot tinha como objetivo principal descolonizar a dança, construindo uma linguagem artística contra-hegemônica que não se baseasse nos modelos e gestos europeus.

Com sucesso, Rubens Barbot conseguiu reunir um grupo diversificado de bailarinas, atrizes e atores negros interessados em realizar uma investigação contínua sobre os gestos, movimentos e imagens dos corpos afro-brasileiros. A Rubens Barbot Teatro de Dança buscou desde o início ser um centro de excelência na pesquisa da relação do afro-brasileiro com suas raízes africanas.

 

 

Arte: Vitória Regina

Em 1993, o grupo destacou-se no Festival Internacional de Corrientes, na Argentina, conquistando dois dos prêmios mais prestigiados – o de melhor espetáculo e o de melhor companhia – pela obra “Três Estudos Coreográficos”. Este reconhecimento abriu portas no Rio de Janeiro, superando as dificuldades enfrentadas anteriormente, e levou o grupo a ser convidado por Lia Rodrigues para participar da primeira edição do Panorama de Dança no mesmo ano.

Em 1995, a Rubens Barbot Teatro de Dança recebeu um prêmio da Funarte pelo conjunto da obra. No ano seguinte, participou da 7ª Bienal de Lyon, na França, dedicada à dança brasileira. Durante o evento, apresentou o espetáculo “Toque de Dança – Suíte para Percussão e Corpos” na Ópera de Lyon, recebendo uma calorosa ovação.

Antes de “tornar-se” carioca, Rubens iniciou sua trajetória em Porto Alegre, onde deu os primeiros passos em seus estudos de dança sob a orientação de João Luiz Rolla, em 1967. Em 1969, foi agraciado com um convite do bailarino Tony Abbott, o que o levou a se mudar para a Escola de Ballet Contemporâneo de Buenos Aires. Lá, não apenas participava das aulas, mas também contribuía na confecção de figurinos. Foi durante uma estadia na Argentina, na década de 1970, que conheceu Gatto Larsen, diretor e produtor de arte, e começaram a vivenciar uma parceria tanto na vida pessoal quanto em projetos artísticos.

Rubens Barbot, em colaboração com seu companheiro Gatto Larsen, fundou o Terreiro Contemporâneo. Este centro cultural, situado na Lapa, no coração do Rio de Janeiro, foi criado com o propósito de acolher e desenvolver artistas negros, além de preservar o legado cultural negro na arte carioca.

Em 27 de julho de 2022, Rubens Barbot, cuja vida foi dedicada por quase quatro décadas à investigação dos movimentos dos corpos afro-brasileiros, faleceu na capital fluminense.

Vitória Regina

Marxista e psicóloga. Debate política, psicologia e cultura.

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