Fascismo nosso de cada dia

O discurso do senador Marcos do Val não deve ser visto apenas como uma opinião individual ou uma simples polêmica, mas como parte de um padrão histórico

Vitória Regina

O pronunciamento do senador Marcos do Val (Podemos-ES), em vídeo publicado no fim de março nas redes sociais, apresenta elementos característicos do discurso fascista ao atacar tanto os direitos políticos das camadas populares quanto as instituições de ensino público. Sua postura agressiva, permeada por insultos e afirmações desconexas, não representa um mero descontrole individual, mas uma estratégia discursiva que mobiliza ressentimentos e apela ao autoritarismo para deslegitimar políticas sociais e educativas fundamentais.

O parlamentar explicitamente defende a exclusão de eleitores de baixa renda ao afirmar que quem recebe o Bolsa Família não deveria ter direito ao voto. “Não é o Estado que tem que fazer por você, é você que tem que fazer pelo Estado”, declarou Do Val, ignorando o princípio básico da cidadania e do sufrágio universal. Em seguida, reforçou sua intenção de restringir direitos democráticos ao afirmar: “Um dos projetos que eu sonho em fazer é o seguinte: quem recebe Bolsa Família não pode votar”. Essa proposta, além de flagrantemente inconstitucional, ecoa práticas fascistas de segregação política e social, onde apenas determinados grupos teriam acesso à participação política.

O ataque às universidades públicas, tachadas de “um lixo” e acusadas de promover “comportamentos inadequados”, também segue uma linha historicamente utilizada por regimes autoritários. O fascismo, em suas diversas manifestações, sempre buscou deslegitimar o pensamento crítico e desqualificar instituições educacionais que promovem a reflexão e o questionamento. A deslegitimação da universidade pública, combinada com esforços para desacreditar sua produção acadêmica e cultural, integra uma estratégia sistemática de enfraquecimento do conhecimento enquanto instrumento de autonomia crítica e transformação social.

O discurso do senador Marcos do Val, portanto, não deve ser visto apenas como uma opinião individual ou uma simples polêmica, mas como parte de um padrão histórico em que forças autoritárias buscam enfraquecer os direitos democráticos, atacar populações vulneráveis e desacreditar instituições que promovem o pensamento crítico. Essas são características centrais do fascismo, que, em suas variadas formas, tenta restringir a participação popular e consolidar um projeto político excludente e reacionário.

Vitória Regina

Marxista e psicóloga. Debate política, psicologia e cultura.

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