É tempo de reacionarismo digital

Mark Zuckerberg se aproxima de Trump e aprofunda ligação de big-techs com fake news e discursos de ódio

Por Vitória Regina

No início da semana, Mark Zuckerberg via Meta – big tech que controla o Facebook, Instagram, Whatsapp e Threads – anunciou o encerramento do programa de fact-checking da empresa nos Estados Unidos. Embora a mudança de diretrizes não tenha sido anunciada em outros países, como no Brasil, é esperado que aconteça em breve.

Zuckerberg justificou, em vídeo publicado no blog da empresa, que a mudança acontecerá pois os moderadores profissionais são “muito tendenciosos politicamente” e que era “hora de voltar às nossas raízes, em torno da liberdade de expressão”.

A verificação de fake news em postagens da Meta é realizada por agências credenciadas à Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN), uma entidade apartidária criada em 2015 pelo Instituto Poynter para promover o jornalismo ético. A rede reúne verificadores de fatos globalmente e conta com 13 agências certificadas nos EUA, incluindo AP Fact Check, PolitiFact, Reuters e The Washington Post Fact Checker. Essas agências são responsáveis por analisar e identificar informações falsas de maneira independente.

Contudo, a Meta não realiza a remoção de conteúdos unicamente com base na checagem de fatos, tampouco bloqueia contas por essa razão. A exclusão de publicações ocorre quase que exclusivamente em situações onde há violação dos Padrões da Comunidade, diretrizes da plataforma que operam de forma independente do programa de verificação de informações. As verificações passarão a ser realizadas no formato implementado por Elon Musk no X, por meio de notas da comunidade.

Nesse modelo, os comentários, ou as chamadas checagens, são realizadas por membros da própria comunidade, em vez de verificadores independentes. Zuckerberg afirmou ter observado o funcionamento desse programa no X, destacando que a plataforma tem capacitado a comunidade a identificar quando postagens podem ser potencialmente falsas.

Além disso, ressaltou que as notas da comunidade precisarão de consenso entre pessoas com perspectivas diversas para reconhecer conteúdos tendenciosos. Caro leitor, cara leitora, pense em como isso teria funcionado em relação às vacinas durante a pandemia.

As mudanças das diretrizes das plataformas indicam uma tentativa deliberada de aproximação com Donald Trump, que tomará posse como presidente dos  Estados Unidos no próximo dia 20. Não por acaso, a Meta doou US$ 1 milhão ao fundo de posse para a cerimônia de Trump.

 

No dia 28 de novembro, após a vitória eleitoral do republicano, Mark Zuckerberg deu início a esforços para estreitar laços com o presidente eleito, participando de um jantar no resort de Trump em Mar-a-Lago, Flórida.

Outra alteração das diretrizes refere-se à eliminação das restrições relacionadas a conteúdos sobre imigração e gênero. Zuckerberg justificou a mudança, afirmando que, inicialmente, a medida tinha como propósito promover a inclusão, mas que, com o passar do tempo, passou a ser utilizada para silenciar opiniões divergentes, o que, em sua visão, excedeu os limites do aceitável.

Contudo, ao implementar tal decisão, Zuckerberg abre caminho para que as redes sociais sob sua liderança sejam potencialmente inundadas por manifestações de diversas formas de discrimanação.

A partir de agora, a Meta autoriza a associação da comunidade LGBTQIA+ a doenças mentais, justificando que “alegações de doença mental ou anormalidade são permitidas quando fundamentadas em questões de gênero ou orientação sexual, dado o discurso político e religioso sobre transgenerismo e homossexualidade”. Em resposta, no último dia 8, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), entidade que atua no Brasil, protocolou uma representação junto ao Ministério Público Federal (MPF) contra a Meta.

A organização ressaltou que “é inadmissível que tais práticas ocorram, especialmente em um contexto onde temos legislações que garantem a nossa proteção’’ e destacou a necessidade de uma reação firme por parte do Estado brasileiro diante dessa situação. O MPF deu 30 dias para a Meta explicar se as mudanças nas checagens se aplicarão ao Brasil.

Vale destacar que, em maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tardiamente removeu a homossexualidade da lista de transtornos do Código Internacional de Doenças (CID). Posteriormente, em 2018, a OMS também retirou a transexualidade dessa classificação, promovendo uma reavaliação de seu enquadramento. Na versão mais recente do CID-11, a transexualidade foi redefinida como ‘’incongruência de gênero’’ e passou a integrar a categoria de ‘’condições relacionadas à saúde sexual’’.

A Meta também prometeu se aliar a Donald Trump para enfrentar iniciativas de países que buscam regularizar o ambiente digital. Mark Zuckerberg criticou abertamente essas ações, dizendo que a Europa está ‘’institucionalizando a censura’’, que os países da América Latina possuem ‘’tribunais secretos’’ que podem ordenar a remoção discreta de conteúdos e plataformas e que a China “está censurando nossos aplicativos”. Mark esqueceu, no entanto, que em 2023 o Senado dos EUA aprovou uma lei que pode banir o Tik Tok do país.

No Brasil, as fake news têm sido amplamente empregadas como instrumentos políticos pela extrema direita. É importante destacar que o Whatsapp – que pertence ao grupo Meta, é o meio de comunicação mais utilizado no país, contando com mais de 120 milhões de usuários. Nesse contexto, a disseminação de notícias falsas, especialmente durante períodos eleitorais, constitui uma preocupação crescente e um desafio cada vez mais complexo de enfrentar.

Vitória Regina

Vitória Regina

Marxista e psicóloga. Debate política, psicologia e cultura.

Relacionadas

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

 

A  B a d a r ó  f a z  u m

j o r n a l i s m o  i n o v a d o r,

ú n i c o  e  i n d e p e n d e n t e.

 

E n f r e n t a m o s  o s

i n t e r e s s e s  d o s  m a i s

p o d e r o s o s,  m e s m o

s e m  m u i t o s  r e c u r s o s.

 

C o n t r i b u i n d o  p a r a

c o n t i n u a r m o s  n o s s o

t r a b a l h o,  v o c ê  r e c e b e

n o s s a  r e v i s t a  i m p r e s s a

e  o u t r o s  m a t e r i a i s

e x c l u s i v o s.

 

P l a n o s  a  p a r t i r  

d e  1 0  r e a i s

Isso vai fechar em 20 segundos