Uma viagem pela Cannabis
- 10 de maio de 2020
Se uma planta pode ser considerada ambivalente dentro do conceito popular, é a maconha. A erva vista como profana para os setores mais conservadores da sociedade é, também, tida como sagrada e essencial a outros. Remédio, comida, matéria-prima para diversos itens, objeto de consagração: há vários fins para as plantas de Cannabis.
A proibição e a perseguição à erva, por meio da guerra às drogas, são recentes. No Brasil, o cerco à maconha foi um dos pilares das políticas de encarceramento, higienização social e branqueamento de um período pós-escravatura que se negava a conceder um lugar de cidadão aos pretos ex-escravizados. Porém, mesmo com o contexto proibicionista envolvendo a planta, os fins para os quais a erva foi utilizada por milênios se mantêm.
Há documentação de sua utilização medicinal que data de 12 mil anos, feita pelo imperador chinês Shen Neng para tratamento de suas dores articulares, em 2727 a.C.; os assírios (há mais de 3 mil anos), também a usavam como remédio, no caso, para a depressão. Além do campo medicinal, há relatos do uso para produção de papiros no Egito antigo, bem como consagração da erva em rituais religiosos, também feitos na Índia antiga – no hinduísmo, há inscrições sagradas que colocam a Cannabis como um presente de Shiva para a humanidade. Os aghoris, sacerdotes ascetas da religião hindu, tradicionalmente fumam a erva para expandir sua consciência e entrar em contato com o mundo divino.
Maio é o mês mundial da luta contra a proibição da maconha. Nesta série de reportagens, a proposta é entender de onde vem a relação de nossa espécie com a planta, quais seus benefícios e os caminhos percorridos para que o impasse moralista da proibição se colocasse como um entrave ao acesso de um dos objetos de terapia, cura, louvor e lazer mais antigos já documentados.
Iniciemos, então, uma viagem pela Cannabis.