Quinzena desenhada: os principais fatos das últimas semanas

Norberto Liberator e Fábio Faria

Edição: Leopoldo Neto

Ilustração mostra mãos para cima com punhos fechados e bandeiras.

 

Equador: protestos populares e recuo do governo

O presidente equatoriano Lenín Moreno anunciou no dia três de outubro o Decreto 884 – determinação que teve por objetivo acabar com subsídios para compra de gasolina e de diesel, assim como aumentar o preço dos combustíveis em cerca de 120%. A medida gerou protestos liderados pelos sindicatos de transporte e, posteriormente, por povos indígenas. Rodovias de todo o país foram bloqueadas. 

A Assembleia Nacional, cinco dias depois, foi ocupada por manifestantes. Moreno decretou Estado de exceção, ordenou toques de recolher e transferiu a sede do governo da capital Quito para Guayaquil, cidade mais populosa do país. De acordo com a “Defensoria do Povo”, órgão responsável por fiscalizar violações de direitos civis e humanos no Equador, a repressão policial resultou em oito mortes, cerca de 120 desaparecidos, 1800 presos e 150 torturados. 

No dia 13, após negociações mediadas pelas Nações Unidas e pela Conferência Episcopal do Equador, Moreno revogou o decreto e anunciou o retorno dos subsídios. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) irá ao país entre os dias 28 e 30 para avaliar a situação das violações denunciadas.

 

Ilustração mostra silhueta de Trump com alvo na cabeça.

 

EUA: processo de impeachment de Trump segue na Câmara

Na última quinta-feira (17), o depoimento do chefe do gabinete de Donald Trump deu novo ânimo aos defensores da cassação do mandato do presidente estadunidense. Mick Mulvaney depôs em sessão do inquérito que segue em sigilo ao público e à imprensa, mas revelou à mídia parte do conteúdo de sua fala. 

Segundo Mulvaney, Trump suspendeu a ajuda financeira dos Estados Unidos à Ucrânia para pressionar o presidente Volodymyr Zelenski a investigar um suposto caso relacionado às eleições de 2016. A hipótese de Trump, baseada em teorias de conspiração, é a de que um servidor de computadores do Partido Democrata – invadido por hackers russos – teria sede na Ucrânia e, desta forma, o governo ucraniano da época teria interferido no processo eleitoral a favor da candidata Hillary Clinton.

A afirmação de Mulvaney interessa à oposição porque desmonta o principal argumento da defesa de Trump, de que não houve troca de favores. A acusação que baseia o pedido de impeachment é de que o presidente estadunidense teria barganhado ajuda financeira e militar com Zelenski, em troca de espionagens contra o pré-candidato democrata Joe Biden, que é conselheiro de uma empresa de gás ucraniana – visando assim interferir nas eleições presidenciais de 2020.

 

Ilustração mostra soldado com fuzil.

 

Turquia: ataque a curdos, cessar-fogo e prolongamento de tensão

A partir do último dia nove, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, iniciou uma ofensiva militar sobre territórios curdos no norte da Síria. Os ataques, aéreos e terrestres, visavam dominar a região conhecida como Rojava, onde guerrilheiros curdos lideraram a resistência que derrotou o autointitulado Estado Islâmico (Daesh).

Os curdos são um grupo étnico que vive em uma faixa de terra entre Síria, Turquia, Iraque, Armênia e Irã. Eles possuem tensões históricas com o Estado turco, porque a maior parte da área reivindicada como nação curda compõe atualmente o território da Turquia. Erdogan pretendia aniquilar o movimento nacionalista curdo e realocar refugiados sírios que estão em seu país.

O avanço militar começou quando o presidente, Donald Trump, retirou as tropas dos Estados Unidos da região de Rojava, onde os curdos foram aliados táticos na expulsão do Daesh. Após a ofensiva, em carta vazada pela rede Fox News, Trump pediu que Erdogan “não fosse tolo” e cessasse os ataques.

Pressionado também pelo presidente russo, Vladimir Putin – que tem no sírio Bashar Al-Assad um de seus principais aliados – Erdogan aceitou acordo de cessar-fogo, anunciado pelo vice-presidente estadunidense Mike Pence na última quinta-feira (17). No dia seguinte, o porta-voz curdo, Mustafa Bali, acusou a Turquia de violar o pacto e voltar a atacar. O presidente turco se reunirá com Putin na próxima terça-feira (22) para discutir o assunto.

 

Ilustração mostra silhuetas de policial e manifestante em confronto. Ao fundo, chamas e fumaça.

 

Catalunha e Chile: manifestações, confrontos e prisões

Uma série de protestos varreu a Catalunha, região autônoma da Espanha, desde que a Suprema Corte espanhola condenou, no último dia 14, nove políticos separatistas à prisão, com penas entre nove e 13 anos, por terem declarado independência em 2017. Em Barcelona, no mesmo dia, manifestantes bloquearam o aeroporto El Prat. A polícia respondeu com violência; um dos integrantes do protesto chegou a perder um olho.

Na quinta-feira (17), o principal líder do movimento, Carles Puidgemont, apresentou-se às autoridades após ser notificado pela polícia da Bélgica, onde está exilado, e passou a viver em regime análogo à liberdade condicional. Logo depois, militantes bloquearam ruas de Barcelona com barricadas, latas de lixo e pneus queimados. À noite, houve ataques policiais com granadas e gás lacrimogêneo. De acordo com o Sistema de Emergências Médicas (SEM), estima-se 582 feridos em toda a região desde o início dos protestos.

No Chile também ocorreram protestos, confrontos e violência policial. Manifestantes tomaram as ruas de Santiago na última sexta-feira (18), após o anúncio de aumento do bilhete do metrô. Segundo o balanço oficial, calcula-se 308 pessoas detidas, 41 estações de metrô danificadas, 11 civis feridos e cinco policiais com ferimentos graves.

No sábado (19), foram convocados novos protestos, desta vez em denúncia ao modelo econômico liberal do país, no qual os serviços básicos como saúde, educação e previdência são privados. As manifestações também criticavam o presidente chileno, Sebastián Piñera. 

O chefe do Exército na capital, General Javier Iturriaga, decretou toque de recolher. Mais tarde, Piñera recuou e revogou o aumento da passagem. Os protestos ocorreram mesmo assim. No domingo (20), o número de presos subiu para 700 e três pessoas morreram após o incêndio em um supermercado. O presidente afirmou que o país está “em guerra” e reforçou o aparato policial. Na segunda-feira (21), o número de mortos durante os confrontos subiu para oito.

 

Ilustração mostra praia com manchas de petróleo. À frente, Bolsonaro com um chapéu de alumínio, que simboliza pessoas paranoicas.

 

Óleo no Nordeste continua e Bolsonaro segue com teorias conspiratórias

As manchas de petróleo cru que apareceram no litoral dos nove estados nordestinos seguem avançando e atingindo novas praias. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), 2,1 mil km da costa brasileira foram atingidos. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro continua a dar tons ideológicos a respeito das possíveis causas do derramamento. 

Na última sexta-feira (18), em transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro questionou se haveria “ação criminosa para prejudicar leilão” de uma cessão onerosa, ou seja, de parte da reserva de petróleo brasileira que será cedida à exploração por empresas privadas. O evento está marcado para o dia seis de novembro. 

No dia sete de outubro, Bolsonaro afirmou ter “um país no radar da origem”, sem citar nominalmente qual seria. Dois dias depois o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que “muito provavelmente” o petróleo viria da Venezuela. Em 27 de agosto, barris da empresa anglo-holandesa Shell foram encontrados na praia Formosa, litoral de Sergipe. Na última quarta-feira (16), a Marinha recolheu outro tambor da multinacional a cerca de 7km da costa de Natal.

No dia 17, a reportagem do Estado de S. Paulo revelou que a Shell encaminhou dados sobre duas distribuidoras que teriam comprado os barris – a Super-Eco Tankers Management, da Libéria, e a Hamburg Trading House FZE, localizada nos Emirados Árabes. Um dia depois, a ONG Redemar e o Sindicato de Petroleiros da Bahia ajuizaram ação para que a petrolífera forneça informações sobre o caso.

 

Ilustração mostra Jair Bolsonaro e Luciano Bivar se encarando. Várias laranjas pairam em torno dos dois.

 

“Vagabundo”, “Peppa”, “picareta”: a crise interna no PSL

As últimas semanas foram marcadas pela tensão interna no Partido Social Liberal (PSL) – legenda da qual faz parte o presidente da República, Jair Bolsonaro. A crise começou com as investigações sobre supostas candidaturas-laranja que o Partido teria usado em 2018 para desviar dinheiro do fundo eleitoral. A apuração da Justiça chegou ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e ao presidente do PSL, Luciano Bivar.

Em tentativa de se descolar da imagem do colega, Bolsonaro disse no dia oito que Bivar está “queimado” e que o Partido deve ser “esquecido”, a um apoiador que, ao filmá-lo, apresentou-se como pré-candidato ao pleito do ano que vem em Recife, pelo PSL. 

Na última quinta-feira (17), o grupo do presidente foi derrotado por 29 assinaturas contra 24 na disputa pela liderança do Partido na Câmara dos Deputados. A intenção era substituir Delegado Waldir por Eduardo Bolsonaro e, para isso, era necessário haver assinaturas da maioria dos 53 parlamentares da legenda. No mesmo dia, o portal R7 publicou um áudio em que Waldir afirma a intenção de “implodir” Jair Bolsonaro, a quem classificou como “vagabundo”. Mais tarde, o líder do PSL recuou na fala, mas no dia seguinte acusou o presidente de comprar votos a favor de seu filho, Eduardo. 

Na sexta-feira (18), Eduardo Bolsonaro postou nas redes sociais uma montagem que mostra a deputada Joice Hasselmann no centro de uma nota de três reais e escreveu que a colega, apesar de se apresentar como “Bolsonaro de saias”, “correu a noite coletando assinaturas” a favor de Waldir. Ela respondeu que não tem “medo da milícia, nem de robô”. 

No sábado (19), ele tuitou uma hashtag em que pede para apoiadores não “seguirem a Peppa”, em referência a Joice. A parlamentar afirmou, em seguida, que Eduardo é um “picareta” e “menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado”. Na segunda-feira (21), Eduardo conseguiu apresentar nova lista com 29 assinaturas, sendo 28 validadas pela Presidência da Câmara, e tornou-se o novo líder do Partido.

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