A impulsionar a grande roda da história
- 26 de abril de 2025
Bruno Lira dedicou vida a uma causa e deixa legado de luta
Texto: Norberto Liberator
Arte: Yuirê Campos
“Perdemos o melhor de nós”. Esta frase ficou em minha mente, como se soprada por uma voz externa, após a notícia de que o quadro de Bruno Lira Rodrigues, que tratava um câncer, era irreversível. Militante, assessor parlamentar, publicitário, estudante, atleta, músico, pai. As funções de Bruno eram múltiplas.
Esta é a primeira vez que escrevo a partir de experiências pessoais para a Badaró, que a esta altura está em seus quase seis anos de existência. Conheci Bruno – também chamado de Lira – durante a graduação, quando estudava Jornalismo e ele, Ciências Sociais. Provavelmente em 2016 ou 2017.
Tínhamos em comum o gosto pelo punk rock e heavy metal, pela moda de viola e pela política. Dividia o tempo de estudo com a função de gerente da Chilli Beans. Uma das primeiras pessoas a saber sobre o projeto de criação de uma revista inovadora e politicamente de esquerda em Campo Grande. “Eu já conhecia a Badaró antes de ela existir”, diria posteriormente.
“O poeta está vivo com seus moinhos de vento, a impulsionar a grande roda da história”, diz a canção do Barão Vermelho dedicada a Cazuza. Bruno impulsionou o ciclo histórico sendo um homem de ação. Um dos fundadores e primeiro presidente do Grêmio Estudantil da Escola Estadual Joaquim Murtinho, maior colégio público campo-grandense; fundou também o Centro de Treinamento Thai 67. Participou da ocupação do Bloco VI da UFMS, em 2019, que rendeu processos da própria universidade contra estudantes.
Na comunicação, sua atuação enquanto publicitário não se deu por título acadêmico, mas pela prática. Foi um dos fundadores da Agência Prosa e, entre muitas coisas, marketeiro das campanhas de Jean Ferreira. A primeira, para deputado estadual em 2022; a segunda, a corrida vitoriosa para vereador por Campo Grande, em 2024.

Foi no contexto do marketing político que nos reaproximamos. Bruno indicou meu nome para assumir a assessoria de imprensa do mandato recém-eleito. A convivência com a burocracia de uma casa legislativa era algo novo para nós. O gabinete do vereador Jean Ferreira, com um bando de jovens vestindo calças cargo ou sarja, destoava dos demais desde a estética. Bruno não aderiu ao paletó e continuou indo à Câmara trajado em camisetas pretas, com estampas de bandas ou frases políticas.
Em uma demonstração de sensibilidade por parte da família, Bruno foi enterrado com a camiseta do álbum “Kill’Em All”, do Metallica. Mas apenas seu corpo físico, pois sua contribuição para um mundo melhor permanece, seja nas memórias, seja no legado que construiu. Bruno Lira era essencialmente político, portanto desrespeitoso seria que sua morte não fosse politizada. Não é o que ele gostaria.
A luta foi um elemento importante de sua vida, em muitos aspectos: na política; no jiu-jitsu e muay thai; como pai atípico do pequeno Noah e na luta pela sobrevivência após a identificação de um câncer. As pessoas morrem, mas suas ações ficam. O que Bruno deixou mostra que sua existência não foi uma mera passagem. Como diz a música já citada: “Amanheceu o pensamento que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento”.