Colagem por Adrian Albuquerque

México 200 anos: Sem milho não há país

Por Gabriel Neri e Mateus Moreira
Terceiro país em população nas Américas, o México completa dois séculos de independência neste dia 27

O território mexicano esteve sob o domínio dos espanhóis durante quase 300 anosa partir das Grandes Navegações no século XVI. O movimento de emancipação ganhou força somente no início do século XIX, quando os independentistas pressionaram a metrópole invasora pela liberdade do país latino-americano. Nesse período, as divergências políticas e religiosas se tornavam cada vez mais agudas.

Na madrugada do dia 16 de setembro de 1810, a luta pela independência esteve em seu estado mais puro, graças ao movimento liderado pelo padre Miguel Hidalgo y Costilla. Este foi apenas o início de uma mobilização que durou cerca de oito longos anos, passando por diversas fases até culminar na emancipação mexicana. Os fatores religiosos, que eram protuberantes no conflito, deram lugar à questão republicana, que ganhava cada vez mais força.

O processo que levou à Independência do México não era de fato homogêneo, sendo o responsável por unir grupos improváveis. Na luta pela liberdade, uniram-se em aliança os liberais, defensores da democracia do México e os conservadores, defensores da implantação de uma monarquia. Ambos os grupos, apesar de suas perspectivas conflitantes, uniram-se diante do propósito de tornar o México independente, deixando que após a conquista da autonomia ele escolhesse por si mesmo o próprio destino.

Após a morte de Miguel Hidalgo, José Maria Morelos y Pavón foi quem assumiu o movimento insurgente, sendo o responsável por organizar uma estratégia que isolaria a Cidade do México, visando a promulgar a independência no dia 6 de novembro de 1813.  Mas no ano de 1815, Morelos foi assassinado, o que invalidou a soberania mexicana. Foi a partir deste momento que a emancipação do México incorporou características de guerra.

José Miguel Ramón Adaucto Fernández y Félix, conhecido como Guadalupe Victoria, e Vicente Guerrero se destacaram como líderes do movimento independentista entre os anos 1815 e 1821, quando Augustín de Iturbide, um espanhol, passou a defender a causa da independência. No dia 24 de agosto de 1821, na Cidade do México, o exército da libertação forçou a renúncia do vice-rei espanhol Fernando VII e a assinatura do Tratado de Córdoba, que reconheceu o país da América do Norte como independente. Agindo na contramão do movimento, Iturbide se autoproclamou imperador, o que resultou em uma rebelião dos mexicanos. O movimento contra o então imperador culminou na criação dos Estados Unidos Mexicanos, em 1823, e consagrou Guadalupe Victoria como o primeiro presidente do país no ano seguinte.

O saldo da guerra iniciada em 16 de setembro de 1810 e terminada em 27 de setembro em 1821 foi de cerca de 600 mil mortos, sendo a maioria dos óbitos guerrilheiros pela independência e a minoria representantes da Coroa Espanhola. Mas, a luta pela liberdade ainda não havia terminado.

O milho mexicano

O México é um país riquíssimo em diversidade de milho. Buscando os pratos típicos da região como as tortillas, tacos, polvorón, pozole, entre outros, é difícil encontrar um sem a presença do cereal. São milhares de variações, de cores, de gostos e usos cultivados por milhares de anos. Antes mesmo da invasão por parte dos espanhóis descrita acima. O milho  é uma parte substancial  da história mexicana, sendo cultivado desde as baixas altitudes até os lugares mais altos.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o país é o quinto maior produtor do mundo com 28 milhões de toneladas por ano, atrás de Estados Unidos, Brasil e Argentina. Ou seja, além da história, do costume e de toda a cultura envolvida, o grão cumpre importante papel econômico para o país de 125 milhões de habitantes.

Mas um dos maiores perigos para o México e para o mundo nos últimos séculos foi o advento das sementes transgênicas e seus derivados, produzidos principalmente pela Monsanto. Essa empresa estadunidense foi comprada pela alemã Bayer há alguns anos e mudou seu nome para Bayer Crop Science. O objetivo da farmacêutica era se afastar da má reputação da Monsanto, só que mantendo seus produtos.

Sendo Bayer ou Monsanto, o intuito da empresa é dominar o mercado de sementes no mundo inteiro, o que consequentemente controla a alimentação de bilhões de pessoas. Para conceituar, os transgênicos, como o nome sugere, são organismos geneticamente modificados para obter características desejadas como cor, tamanho, ciclo produtivo, entre outros.

O México tem 64 variedades catalogadas atualmente em várias cores (preto, branco, amarelo, vermelho, roxo, entre outros) e a saga contra os transgênicos é quase uma guerra. Pela legislação atual, o país proíbe o cultivo de sementes geneticamente modificadas em território nacional justamente para preservar suas raízes. Neste ano, a Bayer entrou com uma ação na justiça para mudar essa situação, mas foi negada.

Para conceituar a invasão da Monsanto com os transgênicos e a relação do milho no México, deixamos dois documentários – O Mundo Segundo a Monsanto (2008) e El Maíz En Tiempo de Guerra (2016).

No México, uma das entidades que lutam por segurança alimentar desde 2007 é a causa Sin Maíz No Hay País (Sem Milho Não Há País), composta por mais de 300 organizações indígenas, campesinas, ambientalistas, cientistas, mulheres, estudantes e outras mais. A campanha tem em seus objetivos a reforma agrária, a garantia de alimentação para todos os mexicanos e a proibição do cultivo de transgênicos.

Todos os anos, a entidade celebra o Dia Internacional e Nacional do Milho em 29 de setembro. O intuito é valorizar o grão e protestar contra as grandes empresas do monopólio de sementes como a Bayer-Monsanto. “Que a nossa celebração seja tão rica e variada quanto o milho!” é o lema que eles carregam todos os anos.

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