Golpe televisionado
- 11 de abril de 2020
Por Fábio Faria e Leopoldo Neto
Uma série de protestos anti-chavistas convocados pela oposição em Caracas, capital da Venezuela, respaldou no dia 11 de abril de 2002 um golpe de Estado que durou 47 horas. Setores da Igreja Católica, uma pequena fração de militares, empresários e conglomerados midiáticos privados do país se uniram com objetivo de derrubar o presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez.
Embora não tenha sido o único agente político determinante para a efetivação do golpe, a mídia privada venezuelana teve papel fundamental para a construção de uma narrativa anti-chavista, com margem para a possibilidade de deposição do presidente – tema este abordado no documentário A Revolução Não Será Televisionada, dirigido pelos cineastas irlandeses Kim Bartley e Donnacha O’Braiain. Semanas antes do ato, os meios de comunicação hegemônicos apoiaram publicamente as manifestações contra o governo e divulgaram amplamente a versão política de opositores.
No dia 11 de abril de 2002, Chávez foi sequestrado por um grupo de militares e levado para fora de Caracas. O ditador Pedro Carmona, à época presidente da Federação Venezuela das Câmaras de Comércio (Fedecámaras), assumiu o comando do Executivo. No seu brevíssimo período no cargo, Carmona dissolveu os poderes públicos e anulou a “Constituição Bolivariana”, proposta por Chávez em 1997 e aceita por referendo pela maioria da população.
No episódio conhecido como Sucesos de Puente Llaguno, a Polícia Metropolitana controlada pelos opositores atirou contra os militantes pró-Chávez em um violento processo de repressão. Os chavistas, que estavam na Ponte Llaguno – viaduto que permite acesso às ruas do Palácio de Miraflores, sede do governo venezuelano – tentaram disparar contra os atiradores que estavam em prédios altos. Em contrapartida, a mídia do país enquadrou a situação de maneira em que mostrava somente os militantes atirando e os acusava de dispararem contra o público dos protestos. A emissora estatal Televisión del Sur (teleSUR) teve o sinal cortado, o que impediu a veiculação de uma narrativa que contrapusesse o discurso oficial.
Chávez retomou o comando do Palácio de Miraflores no dia 14 do mesmo mês. A ação liderada por setores antagônicos ao chavismo fracassou sem apoio da comunidade internacional, sem respaldo da população e das Forças Armadas. Após um processo de investigação, com a obtenção de outros ângulos dos militantes, se descobriu que os ativistas disparavam contra os atiradores da Polícia Metropolitana e que a rua embaixo da Ponte onde estavam se encontrava vazia.