O que rolou em 2019: esportes

Por Guilherme Correia
Colaboraram Leopoldo Neto e Norberto Liberator

Copa América

Estádios mornos, ingressos caríssimos e uma seleção nacional formada por jogadores de pouca identificação com o público: este foi o prognóstico da competição de seleções sul-americanas de futebol masculino, disputada no Brasil este ano, na qual os brasileiros levaram o nono título.

O tabu se repetiu. Nas cinco edições da Copa América organizadas aqui, o País sagrou-se campeão. Neymar, atacante do Paris Saint-Germain, não foi relacionado para disputar as partidas, já que voltava recentemente de uma lesão no pé. A camisa 10 foi dada para Willian, ponta direita do Chelsea.

Nas semifinais, o Brasil enfrentou seu maior rival, a Argentina. O jogo foi muito disputado, com a Seleção conquistando a vitória. O atual melhor jogador do mundo, e camisa 10 do Barcelona (ESP), Lionel Messi, em um discurso fervoroso – incomum para um jogador que sempre se manteve reservado para diversas questões –, acusou o Brasil de obter vantagens dos árbitros nas partidas disputadas em casa.

No geral, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) conseguiu cumprir seus objetivos. A Copa teve boa adesão do público em suas casas; o Brasil foi campeão; e a política de evitar o acesso da população mais pobre ao estádio funcionou. As partidas que aconteceram no Brasil inteiro podiam ser assistidas in loco por cerca de 600 reais, muito diferente do preço de jogos do Brasileirão, por exemplo. Resultado: torcida fria, em muitos casos mais preocupada em tirar selfies do que em torcer.

A final disputada contra o Peru remontou ao confronto de 1975 (àquela ocasião, o Peru foi campeão). O jogo foi muito equilibrado, com o time peruano, composto por jogadores muito menos estrelados que os brasileiros, sabendo anular as ações e conter o adversário. Apesar da dificuldade imposta, o peso da camisa amarela, a torcida a favor e a qualidade técnica dos jogadores fizeram com que o Brasil fosse campeão depois de 12 anos.

Copa Feminina de Futebol

A França sediou o torneio mundial, no qual Alemanha, Estados Unidos e as próprias francesas eram favoritas ao título. O Brasil vinha com um time treinado pelo impopular Vadão – que substituiu Emily Lima, mesmo com um aproveitamento menor que a da treinadora –, com uma mescla de algumas atletas veteranas da “época de ouro” e de diversas jovens que disputavam a primeira Copa de suas vidas.

As brasileiras iniciaram a competição no mesmo grupo que Austrália, Itália e Jamaica, e terminaram em terceiro lugar. Nas oitavas, enfrentou uma França equilibrada e extremamente competitiva, cuja maior parte do elenco conquistou o quarto título consecutivo da Champions League pelo Olympique Lyonnais em 2018. Após uma dura partida, a Seleção não tinha mais forças e fôlego para lutar. A França passou de fase e perdeu para os Estados Unidos, que viriam a levar o título. 

O principal esporte brasileiro é o futebol e a categoria feminina caminha a passos lentos para se inserir neste contexto. A Seleção Brasileira empilha diversas campanhas dignas e honrosas, como o vice-campeonato frente às hegemônicas estadunidenses, para além dos sete títulos de Copa América (competição cuja única edição que não foi campeã, chegou a um vice). Desde o fim da Copa, o time brasileiro vem sendo treinado pela sueca Pia Sundhage, multicampeã pelos Estados Unidos.

“Valorize! A gente pede tanto, pede apoio, mas a gente também precisa valorizar. A gente está sorrindo aqui e acho que é esse o primordial, ter que chorar no começo para sorrir no fim. […] É isso que peço para as meninas. Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane”, afirmou Marta após o fim da partida, olhando para câmera com os olhos marejados e com os lábios pintados com batom de tom vermelho. 

Mundial de Surfe

A elite do surfe mundial é composta atualmente por diversos brasileiros. Entre eles, Ítalo Ferreira, atual campeão do Circuito Mundial de Surfe, que enfrentou o badalado Gabriel Medina. O atleta disputou sua quinta temporada em alto nível. Durante as temporadas, o surfista alcançou, pouco a pouco, resultados melhores, terminando em quarto lugar em 2018.

Neste ano, Ítalo ensaiava sua melhor temporada. De cara, assumiu a liderança do ranking com uma vitória em Gold Coast (AUS) na primeira etapa. John Florence levou as outras duas etapas da perna australiana, assumiu a ponta e tinha tudo para arrancar para mais um título, mas foi impedido por uma lesão no joelho, que o tirou das próximas cinco etapas.

Quando parecia que a disputa iria ficar entre Gabriel Medina e Filipe Toledo, Ítalo mostrou um poder de recuperação surpreendente. 10 mil pontos atrás, Ferreira conseguiu ultrapassar os rivais brasileiros com um vice na França e o título em Portugal, o que deixou tudo aberto para a grande final em Pipeline.

Nascido em Baía Formosa, interior do Rio Grande do Norte, Ítalo começou a brincar de surfar nas praias com uma tampa de isopor. O jovem que entrou no Tour mundial em 2015 logo foi eleito “o estreante do ano”. Sua rápida ascensão era surpreendente, e fez com que o fato de estar na final já fosse uma grata façanha. Para surpresa de alguns, Ítalo Ferreira conquistou o título mundial de surfe, desbancando diversos favoritos.

Jogos Pan-americanos de 2019

Apesar das dificuldades financeiras e orçamentárias, o Brasil realizou sua melhor campanha nos Jogos Pan-Americanos em Lima, capital do Peru. Foram conquistadas 168 medalhas, 54 de ouro, 45 de prata e 69 de bronze – resultados melhores do que o antigo recorde de 200, no Rio de Janeiro. Além disso, os brasileiros tiveram o segundo melhor desempenho geral, o que não acontece desde 1963.

Superação e aprendizado estão presentes em qualquer competição esportiva. Nos 19 dias de jogos, o Brasil mostrou dominância em algumas modalidades, surpreendeu em outras, mas também viu medalhas que pareciam quase certas escaparem.

Os favoritos conquistaram o ouro na natação, handebol feminino e levantamento de peso. Também ocorreram desempenhos históricos na ginástica artística e no basquete feminino. A delegação brasileira levou ouros inéditos na patinação artística, boxe feminino, vela e no badminton, consagrando-se na competição.

De maneira geral, o esporte contribui para o bem-estar e a formação da cidadania de milhares de pessoas, mas requer condições necessárias para o incentivo à sua prática. Nesse sentido, o Brasil ainda sofre com a carência de investimento na infraestrutura para a prática esportiva, seja na construção de quadras e locais para a prática esportiva, como também na preparação de profissionais qualificados.

Guilherme Correia

Repórter e Subdiretor de arte

Estudante de jornalismo. Entusiasta de muitas coisas, do futebol ao audiovisual. Interessado em educação, cultura e pautas sociais.

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