Integralistas: fãs da anta e de Rolão Preto
- 28 de dezembro de 2019
Inspirados em milícias de Rolão Preto e Mussolini, fascistas brasileiros conhecidos por surra histórica voltam a buscar relevância que nunca tiveram
Por Norberto Liberator (texto) e Fábio Faria (arte)
Colaboraram Guilherme Correia e Leopoldo Neto
Versão brasileira do fascismo, o integralismo voltou a figurar em noticiários. Após atentado no prédio da produtora do canal Porta dos Fundos, feito com coquetéis molotov, no dia 24 de dezembro, um grupo identificado com a ideologia reivindicou autoria do crime. Embora hoje sejam pouco relevantes e nunca tenham ocupado posições políticas de grande destaque, os integralistas já foram relativamente expressivos.
Organizados na Ação Integralista Brasileira (AIB), os chamados “galinhas verdes” – alcunha pejorativa dada devido à cor de seu uniforme – chegaram a tentar um golpe de Estado em 1938, conhecido como Levante Integralista. Seu líder, Plínio Salgado, foi deputado federal em várias ocasiões e candidato a presidente da República em 1955, ocasião em que obteve 8% do total dos votos – sendo o preferido em Curitiba.
Escritor, Salgado integrou durante a década de 1920 o Movimento Verde-Amarelo e, em 1927, fundou outra organização, com o sugestivo nome de Grupo da Anta. Ambos tinham caráter ultranacionalista e se apresentavam como oposição ao Movimento Antropofágico, criado por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral – o qual defendia que a cultura brasileira deve absorver elementos de povos diversos. Salgado escolheu a anta como símbolo para “revalorizar” o animal que considerava “expressão máxima” da identidade nacional.
Após uma viagem à Itália em 1930, Plínio Salgado entrou em contato com o fascismo de Benito Mussolini e começou a formular a ideologia que culminaria, em 1932, na fundação da AIB. Seu lema “Deus, Pátria e Família” foi inspirado no “Dio, Patria e Famiglia” dos fascistas italianos. Outros expoentes do integralismo brasileiro foram Gustavo Barroso e Miguel Reale – o último, pai do jurista Miguel Reale Júnior, coautor da peça acusatória contra Dilma Rousseff em 2016.
Simpatia por Rolão Preto
Outra grande influência da AIB foi o integralismo português, que inspirou o nome da agremiação. Os integralistas lusitanos eram liderados por Francisco Rolão Preto e conhecidos como “camisas azuis”, o que serviu como referência para as camisas verdes do grupo de Salgado.
Plínio Salgado chegou a viver em Lisboa, onde se exilou após ser acusado, por Getúlio Vargas, de conspirar contra o regime do Estado Novo. Na capital portuguesa, chegou a servir como espião para a Alemanha de Hitler. Salgado e Rolão Preto tinham posturas semelhantes em relação às ditaduras de seus respectivos países: mesmo com caráter protofascista, Vargas e António de Oliveira Salazar eram considerados moderados para os dois integralistas.
De acordo com a historiadora Giselda Brito Silva, o contato de Plínio Salgado com Rolão Preto foi efetuado logo quando o brasileiro chegou a Portugal. A polícia de Salazar fiscalizou Salgado e manteve atualizações sobre suas atividades desde que o líder integralista brasileiro chegou a Lisboa. O ditador português temia que a relação entre Salgado e Rolão culminasse em uma conspiração contra seu regime.
Rolão liderava, à época, uma facção do integralismo lusitano autointitulada “nacional-sindicalista” e conhecida pela sigla NS. Os NS defendiam um sindicalismo corporativista, que propunha a união dos trabalhadores com patrões em prol da nação portuguesa, a exemplo do corporativismo fascista de Mussolini.