Consequências da queda
- 11 de dezembro de 2019
Por Alison Silva
Ilustração por Norberto Liberator
Dia 8 de dezembro de 2019. O Cruzeiro Esporte Clube é rebaixado pela primeira vez em sua história. Se engana quem nomeia o Palmeiras, adversário da vez, como o principal responsável pelo descenso do clube mineiro – visto que o alviverde venceu o confronto do último domingo por 2 a 0, válido pela última rodada do Campeonato Brasileiro deste ano, sacramentando assim a queda da equipe cruzeirense para a série B.
No início de 2019, ninguém imaginava que o clube mineiro seria rebaixado ao fim da temporada atual, afinal, no princípio do ano, o clube era o bicampeão da Copa do Brasil, título que atualmente pertence ao Athletico Paranaense – em 2017, a raposa venceu o campeonato diante do Flamengo; em 2018, levantou o troféu diante do Corinthians.
Além de conquistar a Copa do Brasil por duas vezes consecutivas nos últimos três anos, em abril deste ano o clube levantou o título mineiro diante de seu maior rival, o Atlético Mineiro; trouxe alguns nomes importantes para a temporada como odriguinho, Pedro Rocha e Dodô – jogadores que junto com Fred, em tese, fariam o clube brigar na parte de cima da tabela.
Passada a temporada, não se viu o Cruzeiro projetado pela mídia esportiva para 2019. Após as 38 rodadas da competição, o clube mineiro conquistou apenas 36 pontos de 114 possíveis, aproveitando de apenas 31,5% dos pontos. Para se ter uma noção, com esta pontuação, a equipe cruzeirense seria rebaixada em todas as outras edições do Campeonato Brasileiro, desde que começou a ser disputado no sistema de pontos corridos.
Durante todo o torneio, o Cruzeiro venceu apenas sete jogos, empatou 15 vezes (equipe com mais empates na competição) perdeu outros 16 confrontos. O clube teve o terceiro pior ataque do campeonato com 27 gols, à frente apenas de CSA (24) e Avaí (18) gols, clubes também rebaixados. Os próprios números da equipe cruzeirense confirmam que os atletas que chegaram com status de estrela não foram capazes de realizar um bom trabalho durante o ano.
Não bastasse isso, o clube foi alvo de várias denúncias de corrupção ao longo da temporada. O jornalista Rodrigo Capelo, especialista em negócios do esporte, realizou durante todo o ano denúncias de esquemas de corrupção envolvendo dirigentes do clube mineiro. Após o descenso da equipe ser confirmado, em uma de suas redes sociais o jornalista elencou nomes de alguns dirigentes do clube, os quais aponta como responsáveis direto pelo rebaixamento da raposa.
Entre os citados por Capelo estão o presidente do clube, Wagner Pires de Sá; o ex vice-presidente de futebol, Itair Machado; Sérgio Nonato, ex diretor-geral do clube; Flávio Pena, atual diretor financeiro da equipe celeste. Além dos já mencionados, Capelo elenca o nome de Fabiano Costa, ex-diretor jurídico do clube; Leandro Freitas, ex-diretor de marketing; e o assessor Fabricio Visacro. O jornalista frisou: “Todos os conselheiros, jornalistas e influenciadores que se venderam. Anotem esses nomes, cruzeirenses. O primeiro passo para reerguer a instituição é expurgar essa gente”.
Com o descenso, o Cruzeiro perde receitas importantes para 2020. A cota televisiva destinada ao clube mineiro deverá passar de 70 milhões em 2019 para “apenas” 30 milhões no ano que vem. O clube, que receberia 11 milhões de reais caso terminasse a competição em 16˚, não receberá valor algum após o rebaixamento.
Em seu primeiro ano de administração à frente da raposa, o presidente Wagner Pires de Sá, juntamente com o fundo de investimento creditório Polo, antecipou os valores televisivos que seriam recebidos entre 2019 e 2022. Com isso, o clube deve receber somente 10 milhões. Os outros 20 milhões serão repassados pela Rede Globo diretamente ao fundo de investimento.
De acordo com Capelo, atualmente, apenas a folha salarial mensal do clube gira em torno de 15 milhões de reais. É certo que a revolta dos torcedores cruzeirenses está longe do fim. A indignação dos aficionados presentes no Mineirão, seja com o péssimo futebol apresentado pela equipe, seja com a administração do clube, é apenas parte do que deve vivenciar nos próximos meses.
Tempos difíceis, mas necessários para que o clube consiga se reestruturar e retornar à elite nacional.