Com pesquisa pioneira, Rafa quer estudar em Portugal – e você pode ajudar
- 9 de agosto de 2022
Artista negro, Rafael Dantas pesquisa sobre a branquitude na arte brasileira e conseguiu ser aprovado em mestrado na Universidade do Porto, porém precisa de ajuda no custeio da viagem
Texto por Ana Laura Menegat
Arte por Norberto Liberator
Rafael tem um sonho: Estudar em Portugal. Na verdade, tem muitos: viver de sua arte, ser pesquisador, completar o mestrado, mudar o sistema de ensino brasileiro e, principalmente, colaborar para uma educação antirracista.
Rafael Dantas é um artista visual negro e sul-mato-grossense. É filho de mãe costureira e acadêmica de Letras; e de pai funcionário público, ex-marceneiro e formado em História. Na família dele, o mestrado sempre foi algo muito distante, uma meta sem a certeza de que se tornaria realidade. Virou. Atualmente, Rafael faz mestrado em estudos culturais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), instituição em que também se graduou. Apesar de o sonho estar em curso, ele ainda não assumiu sua rota ideal, que é a de fazer parte do mestrado em Portugal.
Rafael recebeu a carta de aceite da Universidade do Porto (UP) para seguir os seus estudos no Programa de História da Arte, Patrimônio e Cultural Visual. Essa oportunidade foi proporcionada a partir de um convênio entre a UFMS e a instituição portuguesa, mas o acordo apenas oferece a isenção da propina, que, no português lusitano, é a taxa paga para estudar na UP — o que significa que todos os outros gastos ficam para o estudante. Com intuito de conseguir fundos para essa nova etapa, o artista lançou uma campanha de financiamento coletivo no Catarse: #RafaemPortugal.
Rafael participa de projetos sociais e culturais desde os 13 anos, entre eles uma orquestra jovem. Entrou na graduação por meio das cotas para alunos negros oriundos de escolas públicas. Foi presidente do Centro Acadêmico de seu curso e também esteve à frente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFMS. Atuou como bolsista de projetos de extensão e iniciação científica, que colaboraram para que ele conseguisse seguir estudando e despertaram o interesse do jovem pesquisador pelo meio acadêmico.
Para ele, fazer pesquisa sobre a branquitude na arte brasileira vai além de estudos teóricos, mas também compõe um processo de se reconhecer e encontrar a sua própria identidade, além de ser um ato de resistência. “A ideia de escrever essa dissertação é para que um dia, outras pessoas não precisem sentir o peso do véu [do racismo], apenas o calor do sol em suas peles. Então, para mim, pesquisa é isso: um processo coletivo, não é individual, tem um propósito político e a minha pesquisa tem um propósito de emancipação também”, afirma.
Além disso, ele reforça que esse processo de pesquisa é colaborativo e precisa da troca de ideias. “Eu falo que a minha dissertação é escrita tanto dentro da universidade, quando dentro dos museus, quanto na confecção de costura da minha mãe, no quintal de casa. Minha mãe também é estudiosa, ela estuda sobre teoria feminista negra e ela é custureira na parte da tarde, e é ali que eu fico discutindo as coisas com ela”.
“Pensar em um mestrado em Portugal é expandir os diálogos afro-atlânticos, pensar as questões que eu pesquiso para além. A minha pesquisa é sobre a branquitude dentro da arte brasileira, e aí eu vou discutir sobre colonialidade, o processo de colonização e como isso vai refletir na arte. E pensando isso a partir de Portugal tem um ganho gigantesco, tendo em vista que é o nosso colonizador historicamente”, afirma ele.
É possível doar através da página no Catarse e também acessar mais informações no perfil do pesquisador no Instagram. A campanha de financiamento coletivo vai até o dia 17 de agosto e qualquer valor é bem-vindo.