Revanche terceirizada
- 13 de dezembro de 2021
O troco pela queda de 2007 não veio como a torcida corintiana idealizava, mas veio; o alvinegro, no fim das contas, selou o tri-rebaixamento do antigo algoz
Texto por Alison Silva
Arte por Marina Cozta
Colaboraram Gabriel Neri e Norberto Liberator
“A gente vira jornalista esportivo porque ama um time, ama o esporte, ama o futebol!”. A frase dita com emoção e voz embargada por Mariana Spinelli, jornalista mineira dos canais Disney, após a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Atlético Mineiro após 50 anos, reforçou os motivos pelos quais propunha esta crônica.
Há pouco mais de uma semana, ao vislumbrar uma possível “revanche” entre Corinthians e Grêmio após 14 anos, me questionei sobre o modo como escreveria sobre o confronto que, a esta altura, já ocorreu e não configurou a “vingança” do clube paulista. Como tornar o texto convidativo ao leitor ao passo em que me mantenho isento? Por mais que eu quisesse, não poderia fazê-lo.
Assim como aprendi que é impossível desassociar a figura do jornalista à pessoa, não posso negar os motivos e sentimentos que me trouxeram até aqui. Quando no dia 2 de dezembro de 2007, há 14 anos, vi Jonas escorar o cruzamento de Bustos e abrir o placar de Grêmio 1-1 Corinthians, para 37.571 presentes pela 38ª e última rodada do Brasileiro daquele ano, partida que selou o rebaixamento alvinegro para a segunda divisão nacional. O jogo terminaria empatado e o gol de Clodoaldo aos 30 minutos da primeira etapa tampouco evitaria o descenso corintiano.
Consumado o rebaixamento, eu com apenas oito anos e 1.259 km distante do Estádio Olímpico, palco da partida, chorava em frente à casa dos meus avós enquanto meu irmão (também corintiano), com 17 e aniversariante do dia (baita presente), me consolava. Um de seus amigos, são-paulino, escrevia em letras garrafais, e com o auxílio de um bloco de concreto, “SÉRIE B” no asfalto da rua onde morávamos.
Longe fisicamente, entretanto perto enquanto torcedor, de algum modo, me senti personagem daquela campanha desastrosa de 14 derrotas, 14 vitórias, 10 empates e apenas 44 pontos ganhos – um a menos que o Goiás, primeiro clube fora da “degola” naquele ano. 43% dos pontos ganhos em casa, outros 33% fora, desempenho superior ao apresentado pelo Grêmio deste ano.
Diego Souza, mudança de papéis e vingança terceirizada
Autor de 10 dos 44 gols do Grêmio no Brasileirão 2021, Diego Souza chegou ao Grêmio por meio de empréstimo junto ao Benfica em 2006. Vice-campeão da América e campeão gaúcho em 2007, marcou em oito oportunidades naquele Brasileirão do rebaixamento corintiano, período em que atuou como volante/meio-campista. Em 2021, assim como em temporadas anteriores, Diego Souza joga como centroavante. O atacante foi o principal goleador tricolor na competição deste ano.
Algoz corintiano naquele Brasileirão, ele foi o principal nome do clube porto-alegrense na atual temporada, e, quando ainda era permitido aos gremistas sonhar com a permanência na elite, Diego foi também a principal esperança de evitar nova queda à segunda divisão. O gol contra o Corinthians no empate em 1 a 1 na Neo Química Arena evitou que o “troco” alvinegro ocorresse da mesma forma.
Com o empate, o Grêmio seguiu dependente da derrota do Juventude diante do Corinthians na ronda final do campeonato, assim como um revés do Bahia diante do Fortaleza fora de casa.
Nem mesmo os dois gols anotados por Souza, na vitória por 4 a 3 diante do já campeão Atlético Mineiro, foram suficientes para que o Grêmio ficasse na elite nacional. Com o Bahia derrotado pelo Fortaleza, uma vitória simples do Corinthians ajudaria os gremistas a ficarem na primeira divisão. Nada feito. O gol de Chico, aos 38 do segundo tempo, banhou de água fria os gremistas. Pelo lado corintiano, torcedores comemoravam o descenso do rival quatro dias mais tarde do que a data prevista, com direito a festa da torcida alvinegra no Estádio Alfredo Jaconi, vibrando com a derrota de seu próprio time. Coisas do teatro surreal que é o futebol. Invertem-se papéis, personagens vêm e vão, mas o torcedor… esse não esquece nada.