O mito rebelde alemão: Paul Breitner

Herói de título improvável, ex-jogador que atuou como meia e lateral é conhecido também por suas fortes convicções políticas

Tradução por Gabriel Neri
Arte por Marina Duarte
Texto original por Álvaro Ramírez (Kodro Magazine

O defensor alemão Paul Breitner foi um grande jogador de futebol que brilhou nos anos 70. Ele jogou em grandes clubes da Europa como o Bayern de Munique e o Real Madrid, mas também atuou pelo modesto Eintracht Braunschweig, da Alemanha. Breitner é um dos poucos jogadores como Pelé, Vavá e Zinedine Zidane a ter marcado gols em duas finais de Copa do Mundo. O primeiro no ano 1974, disputada na Alemanha com título do país-sede, de pênalti e o segundo na Copa da Espanha em 1982. Esse último não evitou a derrota para a Itália por 3 a 1.

A final da Copa do Mundo de 1974 era a partida entre os donos da casa contra a seleção do momento, a ‘Laranja Mecânica’, capitaneada por Johan Cruijff (ou Cruyff). O jogo foi disputado desde o começo e o holandês Johan Neeskens abriu o placar de pênalti. Uma partida imprevisível em que os alemães conseguiram sair vencedores por 2 a 1. O gol de empate e que mudou a história da final foi feito pelo jovem de 22 anos Paul Breitner, também de penalidade. Ele não era um especialista em gols, mas como já disse muitas vezes, “nesses momentos é que nascem os heróis”. Depois daquela final, a Alemanha foi mais duas vezes campeã, uma em 1990 e outra em 2014.

Um gênio com muita personalidade sendo um profissional nos gramados. Em plenos anos 70, tornou-se ídolo como havia desejado. Assim era ele, com sua imagem que denunciava seus ideais: cachos volumosos, grandes costeletas e um exuberante bigode. Isso o dava um aspecto de estrela do pop, ou quase. O defensor alemão viveu uma das melhores fases de sua seleção. Aos 18 anos, conseguiu tocar o topo do mundo ganhando inúmeros títulos e se manteve nessa toada até praticamente sua aposentadoria dos gramados. 

No Bayern, o clube de sua vida, teve duas etapas magníficas que marcaram o início e o final de sua carreira respectivamente. Na primeira parte, chegou a ganhar um total de oito títulos, entre os principais, cinco Campeonatos Alemães e uma Copa dos Campeões da Europa (atual UEFA Champions League). Na segunda, foi nomeado em 1981 como o segundo melhor jogador do mundo na votação da Bola de Ouro. Ele perdeu para seu companheiro, o atacante Karl-Heinz Rummenigge.

No meio de sua vitoriosa carreira, teve também uma passagem no Real Madrid após sua primeira Copa em 74. O Mundial é a perfeita vitrine para todos os atletas que o disputam. O meia Johan Cruijff, depois de quebrar as estatísticas, acabou indo para o eterno rival madridista, o Barcelona. Após a negociação, a equipe blanca decidiu contratar Paul Breitner. A negociação envolveu cifras altas para a época, sendo bombástica. Mas ele gerou desconfianças na torcida do Santiago Bernabéu. 

Os motivos eram sua posição em campo e ser estrangeiro. Isso porque à época, as equipes europeias só poderiam ter dois estrangeiros no time. Essas vagas eram usadas para craques ou promessas. O outro companheiro dele era o também alemão Günter Netzer, um meia de marcação com ótima condução de bola (equivalente a um volante). 

Um comunista no clube da elite

Além das questões esportivas, tinha outra situação que pesava majoritariamente em sua transferência, que era seu comportamento fora dos gramados. Suas ideias políticas trouxeram muita indecisão. Paul era um jogador que se autodeclarava admirador de Ernesto ‘Che’ Guevara, de Ho Chi Minh e de Mao Tse-tung. A ideologia de Breitner surpreendeu a muitos. Inclusive, alguns não entendiam sua transferência por conta de um setor madridista não compartilhar dos mesmos pensamentos. Em Madrid, recebeu o apelido de El Abisinio – nome que os soldados nacionais colocavam nos combatentes republicanos. A vida dele nos blancos causou várias histórias curiosas e incomuns. 

Porém, dentro do clube, sobretudo com seu treinador Miljan Miljanić, insistiu em fazer possível sua aceitação. Finalmente, sua transferência foi um acerto. Futebolisticamente, se integrou muito rápido ao grupo e seu futebol foi de suma importância para o Real conseguir dois Campeonatos Espanhóis e uma Copa. Essa que foi conquistada no sofrido dérbi contra o Atlético, com prorrogação e pênaltis dentro do Vicente Calderón. Em Madrid, evoluiu seu posicionamento se tornando mais versátil, jogando às vezes de meio-campista. 

A saída da Espanha foi uma decisão individual. Deixou o Real Madrid rumo ao Eintracht Brunswick, da Alemanha, que fez um grande investimento pelo jogador. Esse clube é reconhecido por ser o pioneiro em estampar publicidade na camisa de jogo. 

A volta ao seu país, apesar de estar numa equipe mais modesta, não o deixou fora das polêmicas. Meses antes da Copa do Mundo de 1978 na Argentina, criticou duramente o ditador Jorge Rafael Videla, que comandava o país portenho durante a organização do torneio. Em desacordo com a situação, chegou a rechaçar seus próprios companheiros de equipe e a Federação Alemã por não fazerem nada a respeito. Assim, mesmo convocado para a Copa, se negou a ir. 

Seu último clube foi o Bayern, onde recuperou seu status de estrela, chegando ao altíssimo nível e disputando a Copa de 1982, na Espanha. Esse foi seu último evento esportivo profissionalmente. Depois da Copa, negou a oferta de renovação de contrato com o clube bávaro. Sua despedida foi com gol na final da Copa, mas sem o título perdido para a Itália. Aos 31 anos, deixou o futebol com uma carreira gloriosa e cheia de títulos. Um jogador completo, diferente e com ideias próprias.

Gabriel Neri

Gabriel Neri

Repórter

Estudante de jornalismo, amante de futebol sul-americano e da América Latina.

MARINA DUARTE

MARINA DUARTE

produtora-executiva

Ilustradora, acadêmica de psicopedagogia, estudou jornalismo. Militante feminista interessada na profunda transformação social.

Kodro Magazine

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Revista digital baseada em Barcelona, Catalunha/Espanha, dedicada ao futebol e a jogos de videogame voltados ao tema.

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