O que está em jogo nas eleições presidenciais do Equador
- 13 de fevereiro de 2021
Com impasse nas urnas, país sul-americano decide entre o legado da Revolução Cidadã ou a continuidade do neoliberalismo
Por Norberto Liberator e Mylena Fraiha
O Equador realizou eleições presidenciais durante o último domingo (7). O pleito, que será decidido em segundo turno, segue indefinido e pode ter recontagem de votos. Na última sexta-feira (12), os candidatos Carlos Yaku Pérez e Guillermo Lasso concordaram em pedir a suspensão do processo eleitoral e auditoria das urnas nas 24 províncias. O candidato de esquerda Andrés Arauz é o único confirmado na segunda etapa e aguarda a decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que pode decidir pela recontagem, para saber quem será seu oponente.
Andrés Arauz, favorito na disputa e que chegou ao segundo turno após alcançar 33,5% dos votos, é herdeiro político do ex-presidente Rafael Correa, responsável pelo processo de profundas reformas no sistema sócio-econômico equatoriano que ficou conhecido como Revolução Cidadã. Arauz é candidato pela União pela Esperança (Unes), coligação que aglutina partidos de centro-esquerda e de esquerda.
Seu oponente na disputa pelo segundo turno pode ser Carlos Yaku Pérez, líder indígena ligado a causas ambientais cuja candidatura foi lançada pelo Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik (PK) ou o banqueiro Guillermo Lasso, do partido direitista Criando Oportunidades. Pérez estava desacreditado pelas pesquisas, mas surpreendeu ao alcançar 19,8% dos votos e deixar Lasso para trás com cerca de 98% das urnas apuradas.
No entanto, a disputa voto a voto pela vaga no segundo turno foi virada. Lasso ultrapassou Pérez e, na quinta-feira (11), chegou a 19,71% dos votos, enquanto Pérez tinha 19,44%. Em quarto lugar, ficou Xavier Hervas, do partido Esquerda Democrática. O candidato, que se define centro-esquerda e como alternativa progressista mais moderada do que Arauz, teve pouco mais de 16% dos votos válidos.
Embora se apresente como progressista, Pérez foi um ferrenho opositor da administração de Rafael Correa e apoiou o próprio Lasso contra o atual presidente Lenín Moreno, quando este era o candidato da esquerda à presidência do Equador (posteriormente, Moreno abandonou a agenda que o elegeu, rompeu com Correa e deu uma guinada neoliberal), além de ter apoiado os golpes contra Dilma Rousseff no Brasil e contra Evo Morales na Bolívia, além da prisão de Lula da Silva.
A jornalista equatoriana Ivonne Amores afirmou, em entrevista ao portal Orinoco Tribune, que Pérez adotou um nome indígena (“Yaku”) para conquistar votos desta parcela da população. Em 2019, quando foi eleito para o cargo de governador da província de Azuay, ele se apresentava como “Dr. Carlos Pérez”. No início deste mês, ele criticou a proposta de Arauz de auxiliar 1 milhão de famílias equatorianas com a quantia de mil dólares. Pérez declarou, no início de fevereiro, que os beneficiados gastariam todo o dinheiro em cerveja.
O banqueiro Guillermo Lasso concorre pela terceira vez. De perfil conservador e alinhado aos interesses dos Estados Unidos, propõe uma agenda neoliberal, com privatizações, afrouxamento na legislação trabalhista, cortes nos investimentos sociais e incentivo à entrada do capital estrangeiro, bem como contrair empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI).