Cuiabá: de escolinha amadora à elite do futebol brasileiro
- 1 de fevereiro de 2021
Fundado em 2001, clube mato-grossense é o primeiro “geração Z” a subir para a Série A do Brasileirão
Texto por Gabriel Neri
Arte por Norberto Liberator
Pela primeira vez em 19 edições na era dos pontos corridos, desde 2003, o Campeonato Brasileiro da Série A de futebol terá uma equipe de Mato Grosso participando da competição. O Cuiabá Esporte Clube, fundado em 12 de janeiro de 2001 e sediado na cidade homônima, conquistou o acesso com uma boa campanha na Série B de 2020, que terminou nesta semana. O time ficou em quarto, com 61 pontos – atrás da Chapecoense, campeã, do América Mineiro, vice, e do Juventude-RS.
O Cuiabá é o sexto mato-grossense a alcançar à Série A do Brasileirão, sendo o primeiro clube nascido no século XXI presente nela. Antes dele, tivemos o Mixto, com 11 participações, o Operário de Várzea Grande, com quatro, Dom Bosco, com três, Comercial, com cinco, e Operário, com duas.
Esses dois últimos vêm com uma observação, porque estão sediados atualmente em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Eles entram na conta, pois na época estavam vinculados à Federação Mato-Grossense de Futebol (FMF). A divisão do Estado de Mato Grosso aconteceu em outubro de 1977 e o primeiro Estadual Sul-Mato-Grossense só foi disputado em 1979. Mas naquele momento, com os inchados campeonatos organizados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a conquista da vaga ao nacional era via estaduais. Atualmente, os times sem divisão entram na Série D e, para jogar as divisões superiores, têm que conseguir a promoção.
Além do inédito acesso, o Auriverde da Baixada, como é conhecido, vem acumulando boas campanhas nos últimos anos. Desde 2015, foram quatro conquistas do Mato-Grossense. Ao todo, o clube tem nove, e seus dois principais títulos são as edições de 2015 e 2019 da Copa Verde. A competição de equipes da região Centro-Oeste e Norte rendeu duas importantes vagas ao Dourado.
Em 2016, foi a para Copa Sul-Americana (segunda competição mais importante do continente, abaixo da Libertadores) e, em 2020, para as oitavas da Copa do Brasil. A queda na Sula veio na segunda fase, diante da Chapecoense, que viria a ser coroada campeã. Já na Copa do Brasil, depois de eliminar o Botafogo, o atual finalista Grêmio eliminou o Dourado. Essa campanha foi a melhor de um time mato-grossense na Copa.
História do Dourado
A trajetória do Cuiabá começa em um 12 de dezembro de 2001, com sua fundação pelo ex-jogador Luis Carlos Tóffoli, conhecido com Gaúcho, que faleceu em 2016. Antes da existência do Dourado em si, o centroavante que passou por Flamengo, Palmeiras, Atlético Mineiro, Grêmio e Boca Juniors coordenava a Gaúcho Escola de Futebol, conhecida como Escolinha do Gaúcho. O Cuiabá era um projeto inicialmente voltado às categorias de base. Foi somente em 2003 que houve a mudança para o profissionalismo, com a primeira participação no Mato-Grossense.
As cores escolhidas foram as mesmas presentes na bandeira do Município de Cuiabá, verde e o amarelo. Ao centro do escudo, está o Obelisco Geodésico da América do Sul. Vale ressaltar que a capital do Mato Grosso está no centro da América do Sul. O mascote é um peixe dourado, animal presente na fauna mato-grossense.
Já em seus primeiros anos de profissionalismo, a equipe conseguiu o bicampeonato estadual, com os títulos de 2003 e 2004. Isso rendeu duas vagas na Copa do Brasil, em 2004 e 2005. Após o sucesso meteórico, o Cuiabá ficou desativado entre 2006 e 2008 por falta de recursos. Na época, o Cuiabá, que é um clube-empresa, teve a sociedade entre Gaúcho e os irmãos Nepomuceno desfeita. A volta foi em 2009, na segunda divisão do Mato-Grossense. O time de Gaúcho subiu e dois anos depois já estava disputando a quarta divisão nacional. O acesso à Série C veio em 2012 e, a partir daí, o período na terceirona durou até 2019.
O Cuiabá jamais olhou para baixo na tabela, sempre subiu e em 2021 disputará a Série A sendo o primeiro representante de Mato Grosso em 35 anos. O primeiro grande título foi a Copa Verde de 2015. Depois de eliminar o Cene-MS, o Estrela do Norte-ES e o Luverdense em um duelo local, venceu o Remo em um jogo épico na Arena Pantanal por 5 a 1 e sagrou-se campeão. A ida tinha sido 4 a 1 para o Leão Azul. A virada ficou lembrada como Milagre do Pantanal, ou Cuiabaço, em referência ao célebre Maracanaço de 1950, quando o Uruguai surpreendeu o Brasil e se sagrou campeão do mundo. Em 2019, no bicampeonato, o time eliminou o Iporá-GO, o Costa Rica-MS e o Goiás antes de bater outro paraense na final. Dessa vez, foi o Paysandu.
Ao longo de seus 19 anos, passou por três estádios: o Estádio José Fragelli (demolido em 2010), o Estádio Eurico Gaspar Dutra – conhecido como Dutrinha – e a Arena Pantanal, inaugurada em 2014. O Fragelli deu lugar ao estádio que foi uma das sedes da Copa do Mundo em 2014. Foi nela que o Dourado alcançou outro patamar, chegando à primeira divisão. O primeiro jogo na Arena para 44 mil torcedores foi pela Copa do Brasil, no empate em 1 a 1 diante do Internacional na segunda fase, em 2014.
Campanha na B e expectativas para A
A trajetória na Série B de 2020 não teve muito sustos para o time do Mato Grosso. A pior posição da equipe foi um 7º lugar na 8ª rodada. O time de Marcelo Chamusca, treinador que começou a campanha e depois de Rodrigo Aal chegou a ser líder e brigar pelo título. Porém, foi ultrapassado por América e Chapecoense, se consolidando no G4 de acesso. Foram 38 jogos, 17 vitórias, 10 empates e 11 derrotas. Seu máximo artilheiro foi Elton, com 9 gols.
O Cuiabá após conseguir o inédito feito de ser o primeiro mato-grossense a subir no atual formato do Brasileiro à Série A, buscará se manter entre os 20 clubes de elite para 2022. O objetivo é evitar a campanha de alguns times que conseguiram o acesso e caíram sem nunca mais ousar a primeira divisão, como o Brasiliense em 2005, América-RN em 2007 (o qual teve a pior campanha da história do Brasileirão), Ipatinga em 2009 e Grêmio Prudente em 2011.
No entanto, é inegável a atenção que o Cuiabá conseguiu gerar para o futebol do Centro-Oeste, que tem um clube não-goiano na elite do esporte após 16 anos; e principalmente para seu estado, que não conseguia ter um representante na primeira divisão há 35 anos, desde o Operário de Várzea Grande em 1986.