Protestos e ‘bolha’: o legado da temporada da NBA 2019/2020

Passada uma semana, postura de atletas deixa a mensagem  de que o esporte não é algo à parte na sociedade

Por Gabriel Neri e Mateus Moreira
Colaborou Norberto Liberator

A temporada 2019/20 da National Basketball Association (NBA) retornou após o Conselho de Administração da NBA e a Associação Nacional de Jogadores aprovarem o projeto, no qual os atletas e demais profissionais envolvidos na competição ficariam isolados na ‘bolha da NBA’ na Disney, em Orlando, no estado da Flórida, para prevenção à pandemia do novo coronavírus. A temporada havia começado em 2019 e foi parada no começo do mês de março. A retomada foi no dia 30 de julho e o último jogo foi no domingo, 11 de outubro. 

A franquia dos Los Angeles Lakers, que se sagrou campeã vencendo a série final por 4 a 2, diante do Miami Heat, igualou os 17 títulos de NBA do Boston Celtics, que agora divide o posto de maior campeão da competição com a equipe de Los Angeles. 

A temporada foi marcada não somente pelos grandes jogos e decisões nos últimos segundos, mas também pelos protestos por parte dos jogadores e das mensagens que vidas negras importam estampadas nos ginásios dos jogos. Essas manifestações foram influenciadas pela morte do jogador de futebol americano George Floyd por um policial na cidade de Mineápolis no final do mês de maio. 

Em plena pandemia, milhões  foram às ruas e nomes importantes do esporte, como o piloto de Fórmula 1 da Mercedes, Lewis Hamilton, adotaram o lema ‘Black Lives Matter’ (BLM, em português, “vidas negras importam”). Além dos protestos, a ‘bolha’ foi um exemplo de protocolo contra a covid-19, tendo apenas 19 casos positivos com mais de seis mil envolvidos. 

“Isso não é um movimento, é um estilo de vida’’

Diante do retorno após quatro meses de paralisação e com dúvidas quanto ao posicionamento oficial da Liga, a volta do melhor basquete do mundo ficou marcada, principalmente, pelos protestos favoráveis ao movimento BLM.

Diversos jogadores se engajaram nos protestos, de forma que a NBA adotou medidas que ajudassem a potencializar o posicionamento dos atletas. Os dizeres “Black Lives Matter’’ foram adicionados ao lado das quadras e frases de justiça social foram colocadas no lugar do nome dos jogadores, nos uniformes de jogo. 

LeBron James, destaque da temporada, campeão da NBA por três franquias diferentes (Cleveland Cavaliers, Miami Heat e Los Angeles Lakers) e que possui o histórico de grandeza em seus posicionamentos fora das quadras, na busca por igualdade social e racial, foi um dos principais porta-vozes do movimento. O astro do Lakers defende que o ‘’Black Lives Matter’’ não seja apenas um ‘’movimento’’ e por isso optou por não substituir seu nome no uniforme de jogo por outra frase. 

“Muitas pessoas usam essa analogia, ao dizer que o Black Lives Matter é um movimento, mas não é. Quando você é preto, isso não é um movimento, é um estilo de vida”, disse o atleta, após o retorno aos jogos diante do Dallas Mavericks. “Nós podemos sentar aqui e dizer que é um movimento, mas quanto tempo vai durar? Não pare o movimento, esta é uma caminhada para toda a vida. Quando você é preto, é assim que a coisa funciona. Tem que ser um estilo de vida, é isso que nós somos’’, finalizou LeBron. 

‘’Eu não gosto da palavra movimento porque, infelizmente, nos EUA e na sociedade não tem existido qualquer movimento para nós”, disse o maior pontuador da história do All-Star Game (amistoso realizado entre os melhores do ano da NBA).

“Nosso foco hoje não pode estar no basquete’’

Diante de um novo caso de violência policial nos Estados Unidos, quando Jacob Blake, um homem negro, alvejado com sete tiros pelas costas em Kenosha, Wisconsin, a NBA foi alvo de boicote por parte dos atletas. Os jogadores do Milwaukee Bucks decidiram não entrar em quadra para a partida diante do Orlando Magic como forma de protesto e o duelo foi suspenso. 

Sterling Brown e George Hill leram, do vestiário, um comunicado denunciando o preconceito racial das forças de segurança estadunidenses. “Os últimos quatro meses lançaram luz sobre as injustiças raciais em curso que as comunidades afro-americanas enfrentam. Cidadãos de todo o país têm usado suas vozes e plataformas para se manifestar contra esses delitos. Apesar do apelo esmagador por mudança, não houve nenhuma ação. Nosso foco hoje não pode estar no basquete”. 

Outras partidas, como Portland contra Lakers e Rockets Contrat Thunder, também foram suspensas. A Liga se pronunciou demonstrando apoio às medidas tomadas pelos atletas e afirmou em nota que “A NBA e seus jogadores concordaram em estabelecer imediatamente um pacto pela justiça social, com representantes dos atletas, técnicos e administradores das franquias, que se concentrará numa ampla gama de pontos, incluindo ampliar o acesso ao voto, a promoção do engajamento cívico e a defesa de uma reforma significativa da polícia e da justiça criminal”.

Desfecho da temporada

Experiente, ídolo do esporte, quatro vezes campeão e “Jogador Mais Valioso das Finais” da NBA (MVP) das finais, além de ativista em causas sociais: o título não poderia estar em mãos melhores, se não a de Lebron James. A conquista coroou, além de uma temporada espetacular, tanto para ele, quanto para o Lakers, uma das maiores demonstrações de representatividade no esporte já vistas, em toda a história. 

Em uma reta final de temporada atípica, em que os olhos dos admiradores do esporte se voltaram ainda mais à NBA, os atletas mostraram-se gigantes, fora das quadras. O troféu da Liga ficou apenas com uma franquia, mas a temporada contou com muitos outros grandes campeões. É apenas o começo, a luta continua. 

A final entre Los Angeles Lakers e Miami Heat foi até o jogo seis de uma série que poderia chegar a sete. O campeão seria quem alcançasse as quatro vitórias primeiro. Os Lakers venceram os primeiros dois jogos (116 a 98 e 124 a 114). O Heat diminuiu a série ao vencer por 115 a 104 o jogo 3. No jogo 4, o título ficou muito próximo da equipe de LeBron após o triunfo por 102 a 96. O jogo 5 foi decidido nos últimos lances com Danny Green, dos Lakers errando um arremesso de três pontos. A série estava 3 a 2 no jogo 6 e numa partida com LeBron de cestinha, a franquia de Los Angeles foi campeã.

A NBA, em cerca de três meses, mostrou como o esporte pode e deve ser utilizado para problemas sociais como o racismo. Grandes nomes do esporte devem ter seus posicionamentos e não viver aquém da realidade. Por fim, uma aula de como seguir protocolo contra uma doença que tem mais de 37 milhões de casos e 1 milhão de mortos. 

Gabriel Neri

Gabriel Neri

Repórter

Estudante de jornalismo, amante de futebol sul-americano e da América Latina.

Mateus Moreira

Mateus Moreira

Colunista

Estudante de jornalismo, apaixonado por futebol e amante de política.

Norberto Liberator

Norberto Liberator

Editor-chefe

Jornalista, ilustrador e cartunista. Interessado em política, meio ambiente e artes. Autor da graphic novel “Diasporados”.

Compartilhe:

Relacionadas

Leave a Reply

 

A  B a d a r ó  f a z  u m

j o r n a l i s m o  i n o v a d o r,

ú n i c o  e  i n d e p e n d e n t e.

 

E n f r e n t a m o s  o s

i n t e r e s s e s  d o s  m a i s

p o d e r o s o s,  m e s m o

s e m  m u i t o s  r e c u r s o s.

 

C o n t r i b u i n d o  p a r a

c o n t i n u a r m o s  n o s s o

t r a b a l h o,  v o c ê  r e c e b e

n o s s a  r e v i s t a  i m p r e s s a

e  o u t r o s  m a t e r i a i s

e x c l u s i v o s.

 

P l a n o s  a  p a r t i r  

d e  1 0  r e a i s

Isso vai fechar em 20 segundos