“Fora, Bolsonaro” de Carol Solberg e a controvérsia da CBV
- 27 de setembro de 2020
“Fora Bolsonaro“: jogadora de vôlei, Carol Solberg, foi repreendida pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) ao se manifestar politicamente. Há dois anos, entidade tomou medida mais leve e alegou “liberdade de expressão”
Texto Por Gabriel Neri
Arte por Fábio Faria
A jogadora de vôlei de praia, Carol Solberg se manifestou politicamente após a vitória na disputa de 3° lugar no Circuito Brasileiro Open de vôlei de praia 2020/2021 no domingo (20). Na entrevista pós-jogo, Solberg pegcou o microfone da mão da parceira de dupla, Talita, e declarou: “só para não esquecer, fora, Bolsonaro”. O CBVP OPEN é a principal competição do calendário naional.
A fala da jogadora ganhou grandes proporções graças às redes sociais. No começo da semana, “fora, Bolsonaro” ficou nos trending topics do Twitter. A reação da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) foi imediata. Em nota, a organização repudiou a ação de Carol Solberg.
“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), vem, através desta, expressar de forma veemente o seu repúdio sobre a utilização dos eventos organizados pela entidade para realização de quaisquer manifestações de cunho político”. Por fim, afirmou que “tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esse, que denigrem – nas palavras da organização – a imagem do esporte, não voltem a ser praticados”.
A CBV teve em 2019, como informado no balanço financeiro, 85% da receita vinda do governo. R$ 76 milhões dos quase R$ 90 milhões da renda vieram direta ou indiretamente dos parceiros públicos. Vale destacar que o vôlei, historicamente, teve apoio do Governo Brasileiro e, nesse sentido, é um dos esportes que mais rendeu medalhas em Jogos Olímpicos e Pan-Americanos.
Nas Olimpíadas, o Brasil no vôlei ‘convencional’ tem 10 medalhas (cinco de ouro, três de prata e duas de bronze); no quadro geral, atrás apenas da extinta União Soviética (URSS). No voleibol de praia, é o país que mais acumula medalhas em quantidade, mas está atrás dos Estados Unidos por ter menos ouros. Foram 13 conquistadas na areia (três de ouro, sete de prata e três de bronze).
Nos Jogos Pan-Americanos, o Brasil está empatado com Cuba, com 25 medalhas cada, como os maiores no quadro, porém fica atrás por ter menos ouros. São oito medalhas de ouro, dez de prata e sete de bronze. No vôlei de praia, liderança isolada com 12 medalhas (cinco de ouro, três de prata e quatro de bronze), dobro do segundo colocado, Cuba.
Segundo o site da CBV, o vôlei brasileiro tem sete patrocinadores e está ligada à Secretaria de Esporte, do Ministério da Cidadania. O patrocinador oficial, que tem o destaque nos uniformes dos atletas e nas publicidades nas quadras de jogos é o Banco do Brasil.
Depois da manifestação, a atleta de 33 anos deu entrevista ao Blog Olhar Olímpico, do UOL, falando sobre a insatisfação com o atual momento do país. “O ‘fora, Bolsonaro’ está engasgado aqui na garganta. Ver esse desgoverno dessa forma, ver o pantanal queimando, 140 mil mortes e a gente encarando a pandemia desse jeito. É isso. Tá engasgado esse grito. E me sinto, como atleta, na obrigação de me posicionar”.
Carol é filha da ex-jogadora de vôlei Isabel Salgado, que completou 60 anos na última terça-feira (22), e em vídeo postado nas redes sociais, exaltou de seu desejo mais profundo, o “fora, Bolsonaro”.
Contradição
A manifestação da CBV no caso Carol foi diferente do ocorrido dois anos atrás, quando dois jogadores do time masculino de vôlei do Brasil fizeram gestos de apoio ao então postulante à presidência, Jair Bolsonaro, no Campeonato Mundial. Wallace e Maurício Souza, ao posar para uma foto, fizeram alusão ao número 17, número do Partido Social Liberal (PSL), antigo partido do presidente. A reação da Confederação foi a de afirmar que “acredita na liberdade de expressão”.
“A CBV repudia qualquer tipo de manifestação discriminatória, seja em qualquer esfera, e também não compactua com manifestação política. Porém, a entidade acredita na liberdade de expressão e, por isso, não se permite controlar as redes sociais pessoais dos atletas, componentes das comissões técnicas e funcionários da casa. Neste momento, a gestão da seleção irá tomar providências para não permitir que aconteçam manifestações coletivas.”, disse em nota à época.
Wallace, 33 anos, medalhista pela seleção e campeão da Superliga é eleitor assumido de Bolsonaro
Wallace, em entrevista ao Saída de Rede, disse que se arrependeu de fazer o gesto após sua popularidade no vôlei cair. Porém, não mudou sua opinião política e lamentou sobre quem não consegue separar o atleta da pessoa. “Quem gostou, gostou, quem não gostou, eu vou fazer o que? Só não consigo entender como a pessoa não consegue diferenciar: ‘Nossa, você era um ótimo jogador, mas agora você não joga nada’. Só mostra o quão pequeno a pessoa não consegue separar as coisas. Não tem nada a ver uma coisa com a outra”.
Carol, após a manifestação, ganhou apoio de “todas as pessoas” que admira. “Saber que todas as pessoas que eu admiro e que são importantes pra mim estão do meu lado, me faz ter certeza de que estou do lado certo da história.”, declarou a jogadora em post no Instagram.
Por fim, a jogadora de 33 anos acredita que todos os atletas possam se manifestar e que não esperava que a CBV fosse contra o ato. Também manifestou no Instagram- após uma campanha pedir o cancelamento do patrocínio com o Banco do Brasil- que não recebe bolsa-atleta (benefício do governo) ou tem patrocínio com a instituição financeira.