Um ano de dor

Por Gabriel Neri e Guilherme Correia

8 de fevereiro de 2019. Um incêndio tomou conta dos alojamentos de jovens atletas do Clube de Regatas do Flamengo. Hoje, um ano depois, as famílias das crianças que morreram ainda não receberam indenização devida.

Não há quem duvide que o Flamengo é o clube com maior visibilidade no Brasil. As últimas conquistas em solo nacional e continental fizeram com que os holofotes estivessem voltados para si. Mas, mesmo com todo esse brilho, reais explicações nunca foram dadas para as famílias das vítimas. Os bons resultados dentro das quatro linhas ofuscaram os problemas do Centro de Treinamento Ninho do Urubu.

A busca por justiça se mostra frágil na maior parte das vezes. O presidente do clube na gestão que construiu o novo CT junto aos alojamentos irregulares, Eduardo Bandeira de Mello, negou acusações em interrogatório da Comissão parlamentar de inquérito (CPI) que apura o caso, e afirmou que não possuía culpa no acidente. “Quando saí, estavam todos vivos e com saúde”. O relato provou que o caso se tornou meramente institucional.

Em vídeo divulgado no canal oficial do clube, o atual presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, junto a outros dirigentes, responderam perguntas selecionadas pela própria equipe de comunicação. Sobre terem demitido os garotos sobreviventes por questões “técnicas”, Landim comentou que ele não representava o departamento de futebol. Para além dos dez que morreram, outros conseguiram sobreviver às chamas – não foi oferecido acompanhamento psicológico nem oportunidade de permanecerem na categoria de base, mesmo que temporariamente.

O presidente, meses antes, aparecia na final da Copa Libertadores da América, trajando o uniforme do time bicampeão do continente em meio aos jogadores. “Lugar do presidente é onde? O cara pra se promover aparece na final do jogo, mas pra falar sobre uma das maiores tragédias do mundo do futebol vem com ‘papinho’”. Este e outros tantos relatos foram ouvidos das vozes de inflamados flamenguistas.

Rodolfo Landim e Eduardo Bandeira de Mello

Clube em evidência

Segundo o monitoramento “Ranking digital dos clubes brasileiros de futebol”, divulgado em janeiro pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), o Flamengo é o clube com maior visibilidade no meio digital. Ele aparece isolado na liderança com quase 28 milhões de pessoas combinadas entre curtidas de Facebook, seguidores de Twitter e Instagram, além de inscritos no YouTube. O Sport Club Corinthians Paulista, segundo colocado, tem cerca de sete milhões a menos no combinado.

“A memória fica, tá cicatrizando, mas fica”. A frase foi dita por Reinaldo Bellotti, CEO do Flamengo, no vídeo que dizia trazer esclarecimentos sobre a tragédia. A “entrevista coletiva” mediada pela funcionária do clube fornece muito pouco sobre o que realmente tem sido feito. O tom adotado nas palavras é um frio. É apenas corporativo. “Os meninos recebiam em média 800 reais, e o Flamengo pagou, espontaneamente, mais de oito vezes esse valor”, prossegue, como se os valores atuais, por serem maiores do que quando eles estavam vivos, fossem justificativa.

Ao entrar no canal oficial clube no YouTube, a imagem de capa em preto e branco revela os dez nomes dos meninos: Arthur Vinícius, Athila Paixão, Bernardo Pisetta, Chistian Esmerio, Jorge Eduardo, Gedson dos Santos, Pablo Henique, Rykelmo Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías, acompanhados da frase “pra sempre por vocês”. Na mesma página, logo abaixo, um vídeo de retrospectiva do ano de 2019.

O vídeo aborda as contratações de atletas para o elenco principal, e relata a trajetória esportiva no ano. Nenhuma menção aos dez nomes é feita. Em meio às várias entrevistas de Rodolfo Landim, o único detalhe é um pequeno laço preto no canto superior da imagem. Apenas um detalhe na retrospecção de um dos anos mais históricos e vitoriosos de um clube brasileiro.

Guilherme Correia

Guilherme Correia

Repórter e Subdiretor de arte

Estudante de jornalismo. Entusiasta de muitas coisas, do futebol ao audiovisual. Interessado em educação, cultura e pautas sociais.

Gabriel Neri

Gabriel Neri

Colaboração especial

Jornalista em formação, cruzeirense, entusiasta da integração latino-americana e colunista no Mercado do Futebol.

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