Onerosa derrota

Por Alison Silva
Arte por Guilherme Correia

O reencontro entre Flamengo e Liverpool certamente prometia. Após 38 anos, reeditar mais uma final do Mundial de Clubes contra o mesmo clube inglês provocava, pelo menos, sentimento de nostalgia nos torcedores rubro-negros. Passada a Taça Libertadores da América, os milhões de flamenguistas espalhados pelo Brasil e pelo mundo embalavam a equipe com uma canção que alimentou as esperanças rubro-negras, de que pela segunda vez em sua história, o clube pudesse chegar ao topo do mundo, novamente contra o time da cidade dos Beatles.

Nesse período que antecedeu o possível reencontro, a canção “Dezembro de 81”, paródia de Max Fortuna e Eric Barceleiros a “Primeiros Erros” de Kiko Zambianchi, tornou-se combustível para os mais de 40 milhões de flamenguistas. 

“Em dezembro de 81, botou os ingleses na roda/ 3 a 0 no Liverpool, ficou marcado na história/ Que no Rio não tem outro igual/ Só o Flamengo é campeão mundial/ E agora o seu povo/ Pede o mundo de novo/ Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe mengo/ Pra cima deles Flamengo”. 

Este ano, o Flamengo não tomou conhecimento de seus adversários aqui no Brasil e conquistou três títulos em 2019; além da Taça Libertadores, título que lhe concedeu vaga ao mundial, o clube conquistou o Campeonato Brasileiro e o Campeonato Carioca. O Liverpool, adversário da vez, é o atual vencedor da Liga dos Campeões e da Supercopa da Europa, apontado por muitos jornalistas e especialistas da área como o melhor clube do mundo. 

Quem acompanha futebol reconhece que os clubes europeus – ao menos em tese – possuem mais qualidade que os clubes de outros continentes; isso devido aos grandes investimentos e planejamentos financeiros realizado pelas equipes ao longo das últimas décadas. Porém, por mais difícil que fosse, os flamenguistas sempre acreditaram que vencer os ingleses seria possível.

Todos os torcedores com quem tive contato antes do mundial expressavam suas opiniões e afirmavam acreditar no potencial do clube, apegando-se principalmente ao potencial de Bruno Henrique e Gabriel “Gabigol”, além das capacidades de seu treinador português Jorge Jesus. Os mais otimistas acreditavam que poderiam inclusive vencer os reds novamente por 3 a 0.

Como clubes europeus e sul-americanos não costumam se enfrentar, mensurar o real potencial deste Flamengo ante a equipe inglesa antes da partida final era algo que se restringia apenas a algumas projeções.

Começada a partida, os ingleses buscaram impor seu jogo desde o início. Logo aos 40 segundos de jogo, o brasileiro Roberto Firmino quase abriu o placar para os reds, assustando os mais de 15 mil rubro-negros presentes no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, no Catar.

Com menos de cinco minutos, Naby Keita e Alexander-Arnold já haviam finalizado outras duas vezes à meta de Diego Alves. – É, talvez a discrepância entre o poder europeu frente aos outros clubes do mundo fosse se reafirmar com facilidade mais uma vez. Afinal, na última década, apenas o Corinthians (2012) sagrou-se campeão mundial, diante do também inglês, Chelsea. Após isso, os brasileiros sofreram uma eliminação nas semifinais (Atlético Mineiro/2013) e ficaram com um vice-campeonato (Grêmio/2017).

Passada a tentativa inicial dos ingleses, o Flamengo conseguiu equilibrar o jogo e, em determinado momento da primeira etapa, passou a dominar as ações da partida. Por mais que naquele momento a equipe não finalizasse a meta de Alisson com facilidade, e nem com tanto perigo, o clube permanecia boa parte do tempo com a bola nos pés; não agredia incisivamente o adversário, mas também não sofria no setor defensivo.

A dupla de zaga rubro-negra (Rodrigo Caio e Pablo Marí) conseguiu barrar as ações de Mohamed Salah e Sadio Mané, auxiliados pelo bom tempo de bola e posicionamento do volante Willian Arão, que recompunha muito bem no setor de meio de campo com Gerson.

Durante a primeira etapa, a partida se desenrolou desta maneira. Com ambas as equipes propondo jogo, buscando o gol; ao contrário do que muitos esperavam, o Flamengo apresentava muita competência e duelava em termos de igualdade com a equipe do Liverpool. 

Na volta para o segundo tempo, Jürgen Klopp, técnico da equipe inglesa, decidiu partir para cima do clube brasileiro. O clube britânico possui a melhor campanha da história do campeonato inglês, a Premier League. Em 17 partidas, o time venceu 16 e empatou um jogo. Como um clube que conquistou aproximadamente 95 por cento dos pontos disputados na principal liga do mundo encontrava problemas para derrotar um adversário de que pouco se falava, pouco se via?

A dificuldade da equipe europeia perdurou durante toda a segunda etapa. O cansaço àquela altura já era um fator a ser considerado. Ambas as equipes realizaram mudanças; o Flamengo deu espaço a Diego, peça importante na conquista da Libertadores. O Liverpool lançou a campo o experiente Milner, a fim de se reafirmar na partida e buscar o caminho do gol.

Os números do confronto demonstram como o clube inglês encontrou dificuldades frente aos brasileiros. Por mais que o Liverpool tenha finalizado mais a gol (18 x 15), os rubro-negros trocaram mais passes que seu adversário (669 x 601), este conhecido por jogar com a bola nos pés; bola que passou a maior parte do tempo com o Flamengo (53% x 47%). Além destes números, os brasileiros cometeram menos faltas (16 x 22) e tiveram mais cruzamentos que o oponente (7 x 5). O Flamengo aqui, tinha reais chances de reviver a glória conquistada diante do mesmo adversário após quase quatro décadas. 

Contudo, apesar da igualdade durante a partida – o que já era um grande feito para os brasileiros, visto o potencial do Liverpool nos últimos anos –, as circunstâncias do confronto permitiram que o Flamengo se projetasse ao ataque buscando o gol, sem temer seu adversário, cedendo assim, espaço aos reds – tudo o que queriam.

Aos nove minutos da prorrogação, Henderson deu belo lançamento a Roberto Firmino, que limpou Rodrigo Caio e balançou as redes da equipe brasileira. Liverpool 1 a 0. Após o gol, sem tempo e possibilidades, o Flamengo pouco pode fazer. Fim de jogo, Liverpool campeão.

Engana-se quem enxerga o revés rubro-negro como negativo. Apesar da derrota, o clube demonstrou grande potencial e “caiu de pé”, dando muito trabalho aos então favoritos. Com a conquista da Libertadores deste ano, em 2021 o Flamengo retornará ao Mundial Interclubes, em novo formato, e deve complicar novamente a vida de times europeus. 

alison silva

alison silva

Repórter

Estudante de jornalismo. Interessado na área esportiva, política e produção audiovisual.

Guilherme Correia

Guilherme Correia

Repórter e Subdiretor de arte

Estudante de jornalismo. Entusiasta de muitas coisas, do futebol ao audiovisual. Interessado em educação, cultura e pautas sociais.

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