O problema? Flamengo!
- 25 de outubro de 2019
Texto: Alison Silva
Ilustração: Fábio Faria
Será que o mais otimista dos flamenguistas imaginava um cinco a zero na noite de quarta-feira? – Acho que não! Muito por conta da equipe adversária. O Grêmio, tricampeão da América, foi a última equipe brasileira a vencer o torneio – em 2017 –, sendo pelo menos semifinalista da competição nos últimos três anos. Jogo grande!
Após observar a imponência do Flamengo mesmo fora de casa na partida de ida, Renato Gaúcho, técnico gremista, decidiu que sua equipe jogaria diferente no Maracanã. Realizou algumas declarações públicas sobre seu time a fim de desestabilizar a ótima equipe rubro-negra, como ao dizer que “o Grêmio joga o melhor futebol do Brasil”, provocando o técnico Jorge Jesus e a equipe adversária, ao longo dos dias que antecederam o confronto. Renato reconhecia a dificuldade do duelo e, agora, a equipe carioca era quem contaria com o apoio massivo de sua torcida.
O Grêmio de Renato precisava se movimentar, fazer diferente. O lateral Rafael Galhardo deu lugar ao zagueiro Paulo Miranda, que por sua vez se juntou à dupla Geromel-Kannemann, na tentativa de fortalecer o sistema de defesa do time gaúcho. Michel e Matheus Henrique jogavam à frente dos zagueiros como suporte defensivo. Maicon tinha certa liberdade no meio, mas preocupava-se em muitos momentos com a recomposição gaúcha, principalmente na primeira etapa de jogo. À frente da equipe, Everton Cebolinha e Alisson atentavam-se muito mais às descidas dos laterais do Flamengo do que se preocupavam em atacar; sendo assim, restou a André lutar pelas poucas bolas que mal chegavam a seus pés, quando chegavam ao ataque.
Durante quase toda a primeira etapa, o “3-4-3” gremista em muitos momentos se tornava 3-6-1, por conta da recomposição de Cebolinha e Alisson pelas laterais do campo. O esquema funcionava. No entanto, no fim do primeiro tempo o vertical e pragmático Flamengo conseguiu quebrar a linha defensiva adversária. Bruno Henrique conduziu a bola até a entrada da área; serviu Gabigol, que finalizou com a perna direita “fraca”; Paulo Victor soltou e o próprio Bruno Henrique conferiu a bola para o fundo das redes. Gol rubro-negro. Nesse momento o Grêmio, que mal chegava ao ataque, precisava de dois gols para ir à final da competição. Dura e árdua missão.
Agora, restando apenas 45 minutos de partida, o Grêmio, que muito pouco agredia a equipe do Flamengo, precisava marcar duas vezes para voltar à final da Libertadores. Para isso, era necessário que a equipe gaúcha abdicasse de alguma coisa.
Instintivamente, os jogadores do clube gaúcho que precisavam marcar se lançaram ao ataque, desprendendo-se assim do único movimento positivo que a equipe apresentava até então: a solidez defensiva. Além disso, outros dois fatores contribuíram para o que aconteceria dali em diante: a má atuação do goleiro Paulo Victor e a fragilidade gremista na bola aérea defensiva.
Apesar do ótimo elenco e das credenciais apresentadas pela equipe gaúcha ao longo desses últimos anos, do outro lado havia uma equipe muito convicta de seus objetivos e ambições. Um Flamengo que respeita seus adversários jogando muita bola, que busca o gol a todo o momento, flexível, compacto, e que conta com uma dupla de atacantes letais à frente.
Muito das construções ofensivas do time do Flamengo nesta temporada passam pelos pés da dupla Bruno Henrique e Gabigol. Dos 116 gols marcados pelos rubro-negros no ano, 51% saíram dos pés da dupla. Se ampliarmos o leque para os gols em que eles efetivamente participaram, seja marcando ou com assistências, o número sobe para cerca de 70 gols, aproximadamente 60% dos gols do Flamengo em 2019.
Bruno Henrique e Gabriel, somados, agora contabilizam 12 gols pela Libertadores. Gabigol tem 35 gols no ano, além de ter sido o vice-artilheiro do Campeonato Carioca no início do ano com sete gols, um a menos que seu companheiro de ataque. Além dos ótimos números dos atacantes, o futebol entregue pelos demais atletas impressiona. Fora de campo, o apoio principalmente do departamento médico do clube carioca, que conseguiu recuperar os então lesionados Rafinha e Arrascaeta para a partida, é notório.
Vale ressaltar que tanto Gabigol quanto Bruno Henrique chegaram à equipe este ano, assim como outros cinco titulares do time no jogo de ontem; o zagueiro Pablo Marí, os laterais Rafinha e Filipe Luís, o volante/meia Gérson e o também meio-campista Giorgian De Arrascaeta. Não bastasse toda esta renovação no elenco, o comandante da equipe também é recém-chegado na Gávea. O importado treinador português Jorge Jesus chegou este ano ao Flamengo, e muito do futebol apresentado pelo clube passa por seus cuidados.
Voltemos à partida. Iniciada a segunda etapa, a relativa efetividade defensiva da equipe gaúcha começou a sucumbir ao ótimo futebol apresentado pelo Flamengo. E como joga, esse Flamengo! Durante 25 minutos do segundo tempo, apagão gremista! Quatro gols do clube carioca. A competitiva equipe do Grêmio se viu de mãos atadas diante do futebol rubro-negro. Além da capacidade do time de JJ, as falhas da equipe gremista contribuíram para o elástico placar final.
Logo no início do segundo tempo, bola levantada na área gremista, falha defensiva, gol de Gabriel. Aos 11 da etapa final, pênalti em Gabigol, que bateu e converteu. Por fim, a dupla de zaga Marí e Rodrigo Caio marcou em outras duas bolas alçadas na área gremista. Ainda restavam quase 20 minutos de jogo, além dos acréscimos, e se via muito de um Flamengo ofensivo, querendo mais, ao contrário do apático time do Grêmio, que nada podia fazer diante das circunstâncias.
Fim de jogo. Flamengo 5×0 Grêmio, e após 38 anos a maior torcida do País volta a empurrar o Flamengo em mais uma final intercontinental. O adversário é o atual campeão da competição, River Plate, que coleciona quatro títulos do torneio. Equipe muito qualificada, jogo grande. Os argentinos que se cuidem, porque este Flamengo é muito competente, focado, e vem muito forte a fim de coroar seu belíssimo trabalho.
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