Contra ‘Future-se’, estudantes ocupam prédio da UFMS
- 27 de setembro de 2019
Estudantes enfrentam falta de diálogo por parte da instituição em meio a cortes de luz e ameaça de despejo
Acadêmicos ocupam o Bloco VI da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desde a última terça-feira (24). O intuito da ocupação, segundo os estudantes, é cobrar uma posicionamento da reitoria em relação ao projeto ‘Future-se’, proposto pelo Ministério da Educação.
A ação foi aprovada por unanimidade em assembleia realizada com cerca de 90 participantes. A ocupação foi nomeada “Ágatha Félix”, em homenagem à menina de oito anos morta pela Polícia Militar fluminense na semana passada. Na última quarta-feira (25), o Centro Acadêmico de História (CaHis) publicou um manifesto do movimento.
Esta não é a primeira vez no ano em que o bloco é ocupado por estudantes. No dia 13 de maio, ocorreu uma movimentação semelhante. O ato culminou em protesto com mais de 10 mil pessoas em frente à Universidade, contra os cortes na educação, segundo dados da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems).
Entre as medidas já realizadas pelos estudantes, na atual ocupação, está a criação de sete comitês para garantir a manutenção do bloco. Eles se dividiram entre equipes de limpeza, infraestrutura, alimentação, segurança, comunicação, eventos e articulação política. Foram arrecadados alimentos, produtos de limpeza, colchões e roupas de cama. Também foi promovida uma roda de conversa sobre o ‘Future-se’, no primeiro dia de manifestação.
A ocupação iniciou por volta das 19h. Às 22h os estudantes receberam uma notificação extrajudicial para a desocupação do prédio, com prazo estabelecido de 30 minutos, feita pela Universidade. Às 23h, a energia elétrica do bloco foi cortada pela primeira vez e permaneceu assim até as 13h30 de quarta-feira (25). Quatro horas depois, a energia foi cortada novamente.
Os estudantes têm realizado atividades e debates no espaço. Uma delas foi uma roda de capoeira com Mestre Pequeno, da Escola de Capoeira Camuanga de Angola. Ele apresentou uma aula aberta, com cerca de duas horas de duração, e fez relatos pessoais de superação, militância e resistência. Cerca de 50 pessoas assistiram à roda e arriscaram movimentos da arte marcial.
“Quando eu comecei na capoeira, a gente treinava num espaço que foi abandonado que não tinha luz. Depois de quase 40 anos eu faço uma roda com lampião e vela. Fiquei muito contente, deu outra energia”, relata o capoeirista.
Enquanto realizavam serviços de limpeza e preparo do almoço, por volta das 11h desta sexta-feira (27), os estudantes ficaram sem água. “A gente está super organizado aqui e fazendo a manutenção do bloco. Como que a gente vai manter tudo limpo se eles cortam a água? Será que depois vão falar que não estamos limpando o bloco? Mas com que água?”, questiona uma estudante que não quis se identificar.
A UFMS também teria tentado impedir o acesso da imprensa na instituição. A coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Fundação UFMS e IFMS (Sista-MS) Cléo Gomes, relata que foi procurada pela equipe de reportagem do canal televisivo SBT para dar uma fala no lado de fora da universidade, pois eles foram retirados do local. “Três seguranças informaram que eles não poderiam gravar imagens aqui dentro”.
Os estudantes acreditam que essas atitudes têm como propósito desmobilizar e enfraquecer o movimento. “É uma ferramenta de intimidação para que as pessoas se sintam retraídas. Por qual motivo eles tentariam impedir a divulgação do que está acontecendo aqui?”.
Os acadêmicos defendem a manifestação e garantem que ela continua por tempo indeterminado. “Nós estamos cuidando do prédio, mantendo tudo limpo e organizado. Sabemos que alguns colegas são contra o ato. Eles dizem que estamos atrapalhando as aulas, mas queremos levantar o debate sobre o ‘Future-se’, projeto que ameaça o acesso a um ensino público e de qualidade”, diz um estudante que optou por não se identificar.
As atividades já realizadas e programadas para ocorrer durante a ocupação são postadas no perfil do movimento no Instagram e na página “Eu Defendo a UFMS” no Facebook.
Future-se
O Programa Institutos Universidades Empreendedoras e Inovadoras, ‘Future-se’, foi lançado pelo Ministério da Educação (MEC) no dia 17 de julho de 2019. Na última semana, o site do MEC publicou uma notícia onde afirma que o objetivo do programa é promover maior autonomia financeira às universidades e institutos federais por meio de incentivo à captação de recursos próprios e ao empreendedorismo.
Uma das críticas mais recorrentes ao projeto é de que ele possui muitas lacunas para diferentes interpretações. A página de Facebook ‘Eu Defendo a UFMS’ publicou um texto de repúdio e listou 12 pontos para entender a medida. Entre os mais relevantes estão o fim de concursos públicos para a contratação de docentes, que pode resultar na quebra da isonomia do processo seletivo, e o corte de investimentos em pesquisas não lucrativas ou sem resultado imediato no mercado, que pode colocar em risco diversos projetos que atendem a população.
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