Resiliente Athletico!

Texto: Alison Silva

Ilustração: Fábio Faria

 

Na ilustração: Tiago Nunes, técnico do Athletico Paranaense

“Um furacão passou sobre a Copa do Brasil e levou tudo! Glória, dinheiro, taça; Athletico Paranaense, inédito, campeão da Copa do Brasil!”.

Estas são as palavras do narrador do grupo SporTV Milton Leite, após o derradeiro apito do árbitro Wilton Pereira Sampaio na finalíssima da Copa do Brasil na noite de quarta-feira (18).

A partida com certeza ficará marcada na memória dos torcedores athleticanos. Conquistar o título, sem dúvida alguma, eleva o patamar do clube tanto a nível nacional, quanto internacionalmente. Engana-se quem pensa que apenas o gol de Léo Citadinni e o belíssimo gol de Rony, já no apagar das luzes do Beira-Rio, são os principais responsáveis por isso.

O Athletico de Tiago Nunes tem se mostrado há alguns meses uma equipe objetiva, intensa, assertiva e muito letal. Adjetivos presentes no futebol jogado pelo clube em Porto Alegre na partida decisiva. O técnico Tiago tem sido muito competente, qualificado, competitivo. Em um ano e quatro meses à frente da equipe, foram conquistados quatro títulos: A Copa Sul-Americana de 2018; o Campeonato Paranaense, no primeiro semestre de 2019; o campeonato amistoso Levain Cup, em agosto no Japão; além da recém-conquistada Copa do Brasil de 2019. “Resiliência” é a palavra que define o título do Clube Athletico Paranaense nesta 31ª Copa do Brasil.

O caneco chega ao Paraná na cabeçada de Marco Rúben aos 43 do segundo tempo contra o Fortaleza nas oitavas. Nos pênaltis defendidos por Santos contra os fortíssimos e midiáticos times de Flamengo e Grêmio (momento mais resiliente do clube na competição, eu diria). No gol solitário de Bruno Guimarães no primeiro jogo da final e, claro, na linda jogada de Marcelo Cirino encontrando o pé direito de Rony já aos 51 minutos do segundo tempo, que consolida a inédita conquista dos paranaenses. Merecido título. Resiliente título.

Antes de tudo, vamos à partida: começado o jogo, o Internacional foi ao ataque, como esperado, encurralou a equipe paranaense em seu campo de defesa. Os donos da casa buscavam o gol rápido, o que igualaria a decisão. Para isso, acionavam as investidas de Bruno pela direita, e de Patrick e Wellington Silva pela esquerda com o intuito de explorar principalmente os espaços defensivos deixados pelo jovem lateral, estreante em finais deste porte, Khellven, de apenas 18 anos. O Inter tentou. Tentou na cabeçada de Guerreiro logo aos dois minutos, tentou com Níco Lopez, tentou com Patrick. Nada. Todas as movimentações gaúchas esbarravam na forte e compactada marcação da equipe do Athletico.

Nesse momento do jogo, onde os donos da casa ditavam o ritmo da partida, os mais de 50 mil torcedores presentes no Beira-Rio pareciam estar prestes a ver o Internacional abrir o placar e igualar a decisão. Mas não, não foi isso que vimos. Afinal, do outro lado tínhamos um resiliente e competente Athletico Paranaense, que em uma de suas primeiras chegadas ao ataque, aos 24 minutos da primeira etapa, ampliou o placar agregado da final em bela finalização do volante Léo Cittadini, com assistência de Marco Rúben. 

Dois a zero no somatório e, de quebra, o silêncio colorado.

Exatamente. O silêncio colorado. Pois os 2.300 aficionados athleticanos gritavam e comemoravam aquele que poderia ser o gol de seu segundo título nacional em 95 anos de história. 

Sete minutos mais tarde, os donos da casa empataram a partida. Gol sofrido, como aqueles que o torcedor do Inter gosta, o que reacendeu a partida. Após o empate dos donos da casa, os últimos 15 minutos do primeiro tempo permaneceram como os quinze iniciais. Pressão colorada e um Athletico Paranaense tranquilo, compacto, e como já disse, resiliente – uma das principais características da jovem equipe comandada por Tiago Nunes, em seus dezesseis meses de trabalho no furacão.

Na volta do intervalo, Odair Helmann saca Patrick da equipe para colocar Rafael Sóbis em seu lugar, afinal o Inter tinha apenas mais 45 minutos no relógio para fazer o gol que levaria a partida para os pênaltis. Os mais supersticiosos passaram a crer ainda mais no bicampeonato colorado a partir desta alteração. Afinal de contas, este Sóbis é o mesmo que há quase uma década foi eleito o homem do jogo em uma das finais da Copa Libertadores de 2010 – ano em que o Internacional sagrou-se pela segunda vez em sua história o campeão da América.

O ótimo desempenho do Grêmio não foi o suficiente para tirar o caneco do time paranaense.

Outro homem colorado presente naquela distante final estava no Beira-Rio ontem à noite. D’Alessandro, talvez peça mais importante que Sóbis na noite desta quarta-feira, estava relacionado e à disposição do treinador para o jogo. Apenas isso. Pois o argentino seguiu para a decisão com uma lesão na coxa direita, sentida durante um treinamento da equipe no domingo antecessor a esta final.

O segundo tempo da partida se passava e as equipes realizavam as movimentações necessárias para alcançarem seus objetivos no jogo. Aos 10 minutos da etapa complementar, o Internacional desarmou-se taticamente ao deixar de lado o 4-3-3 inicial. O lateral Bruno deu lugar a Nonato. Com isso, Edenílson seguiu para o lado direito do campo, aquele defendido pelo jovem Khellven. Seis minutos mais tarde e com o lateral inseguro na partida, Tiago Nunes substitui o garoto pelo experiente e também lateral Madson, para buscar maior segurança contra as investidas coloradas no setor.

Enquanto os donos da casa a essa altura já não se atentavam à posicionamentos, o jovem time do Athletico Paranaense se mantinha sóbrio, compacto. Extremamente atento aos movimentos do adversário. Aos 23 minutos, Marco Rúben deu lugar a Marcelo Cirino e o Athletico se mantinha postado, com as mesmas características iniciais de jogo. Resiliente Athletico.

Ambas as equipes realizaram mais uma substituição cada. No Athletico, Léo Cittadini deu lugar ao experiente Lucho González. Na última cartada do Inter, Wellington Silva deu espaço a Guilherme Parede, para um Inter cada vez mais agressivo. Aqui, os donos da casa já lançavam-se ao ataque com todas as peças. Os paranaenses mantinham-se focados, compactos, aguardando o momento certo para matarem a partida.

É chegada a hora. Aos 51 minutos do segundo tempo, Cirino arranca pela esquerda. No Inter, Edenílson e Guilherme Parede, em seus últimos esforços, retornam marcando o jogador. O atacante paranaense atrai os dois marcadores e com um único movimento, uma caneta de letra entre as pernas de Edenílson, deixa ambos para trás. Conduz a bola já na entrada da área colorada, finta de perna direita Rodrigo Lindoso e toca de perna esquerda para Rony na entrada da área, que dá os números finais à decisão. 

Internacional 1×2 Athlético Paranaense. Após quase dezoito anos, no dia 18 de setembro de 2019, o Athletico volta a vencer um campeonato nacional. O primeiro e último, até então, havia sido o longínquo Campeonato Brasileiro de 2001.

Terminada a competição, muitos são os jogadores a ser lembrados nesta conquista. O goleiro Santos, revelado pelo clube e reserva durante muitos anos, mas que ganhou espaço após a saída de Weverton. O jovem zagueiro Robson Bambu, de apenas 21 anos, reserva até outro dia, mas que em minha opinião foi o melhor jogador desta final. Bruno Guimarães, também com 21 anos, um dos pilares no meio-campo da equipe. O rapidíssimo Rony, com apenas 24 anos, fez-se decisivo para o grupo nesta reta final de torneio. Sem esquecer de mencionar o técnico Tiago Nunes, que recusou uma oferta do também Atlético — o Mineiro, em abril deste ano — optando por permanecer em Curitiba.

Enfim, as saídas e chegadas, os percalços e as dificuldades ao longo desse período ajudaram a moldar a identidade do atual Athletico Paranaense. Resiliente furacão, que chega; e chega para ficar.

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